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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Liane teve a impressão de estar submerso em água. Sua cabeça pesava de forma esquisita, a falta de ar queria puxá-lo para cima, mas o movimento do rio parecia intenso demais para se mover como queria. Havia o som de chuva, uma ventania empurrando os galhos das árvores e trovões distantes. Cada mísero detalhe relembrava uma memória da qual desejava esquecer, uma bastante antiga de quando sofria nas mãos de outra pessoa e quando era muito mais impotente em relação agora.

    Ele abriu os olhos, encarando com uma intensidade exagerada a mão sobre sua cabeça, pingando gotas d’água na testa. Seu primeiro reflexo foi de tirar aquela coisa dali, mas, quando tomou melhor noção de si mesmo, reparou nas outras pessoas daquele recinto. Jessia estava sentada de braços cruzados ao lado da cama, utilizando uma armadura extravagante demais para os seus padrões, enquanto Celine se encontrava sentada em outra cama próxima, sendo enfaixada ao redor do tronco.

    Nada disso fazia sentido, mexendo sua respiração pesada. A última coisa da qual lembrava era da queda no beco, quando perdeu a consciência por forçadamente recuperar o controle das pernas.

    “Erika? Você tá aí? O que aconteceu?”

    Ah, você finalmente acordou, eu comecei a me preocupar que não ia levantar. Você desmaiou depois de sofrer um choque de dor, mas deu sorte que Jessia patrulhava por perto. Ela enfrentou aqueles caras esquisitos, salvando a pele dos dois.

    “E por que Jessia tá com essa armadura? Não cai bem nela.”

    Ora, Liane, você realmente é muito desatento com as coisas. Era ÓBVIO que o bispo Vylon e a igreja de Lithia traria ela para dentro do culto, além do mais, ela serve de símbolo para a igreja e seria uma ótima adição de força por matar um dragão. Claro, aquilo aconteceu com nossa interferência, mas não podemos negar que foi incrível.

    “É… realmente. Não entendi nada do que você quis dizer direito, mas como soa inteligente, deve fazer sentido! A Celine está bem? O que houve com ela?”

    Só foi uma flechada envenenada. Como Jessia deu uma poção de cura para ela, o ferimento e o efeito do veneno foram mitigados, então ela está bem.

    Aquilo trouxe um alívio e esperança para Liane, cuja cabeça imaginava mil e uma situações ruins. Aquilo foi um grande tiro de sorte, tão gigantesco que os heróis das histórias que lia sentiriam inveja.

    — Madame, ele acordou — disse o moço que pingava água na testa do garoto, recolhendo a mão.

    — Ótimo. Podem sair os dois, seu serviço não é mais necessário — ordenou Jessia, fazendo também um gesto de mão para dispensá-los.

    Aqueles dois saíram do quarto, deixando-os à sós. O local em questão era uma ala hospitalar da igreja, reservada aos doentes e aqueles em situações graves, mas esse ponto em específico só tinha duas camas e era um quarto completamente separado. Apenas elites e pessoas importantíssimas vislumbravam o local, com mobilia cara em cada ponto e quadros caríssimos. Todo o luxo trazia o péssimo reflexo da mulher de furtar os objetos numa bolsa e escondê-los para vender no mercado negro mais tarde.

    Porém, por causa do rígido treino de paladinos, ela conseguiu se segurar. A única coisa chamando sua atenção no momento eram as duas crianças, da qual encontrou perdidas no meio da noite sendo perseguidas por pessoas esquisitas.

    — Moleque, você não é idiota, então vou ser direta. — Jessia o encarou com o rosto franzido. — O que diabos você fez?

    — Eu não fiz nada, juro! — Ser culpado logo de cara mexeu no orgulho infantil de Liane. — Eu… só…

    — Hah, seja sincero de uma vez. Até sua amiga foi pega por causa de você. Já te vi praticando magia escondido, sei da sua fada, sei das suas anomalias com coisas sobrenaturais… Não adianta esconder, só fale logo.

    O garoto cerrou os dentes e fez beicinho como forma de implicar com aquele julgamento, mas apenas suspirou e largou qualquer marra anterior. Não adiantava esconder as coisas de Jessia depois de terem sido salvos, na verdade, devia demonstrar pelo menos algum respeito e agradecimento para compensar o esforço.

    — Sai de casa no meio da noite porque senti uma coisa estranha. Tinha… pulso, eu acho. Fiquei agoniado pela sensação e decidi seguir, então cheguei numa parte dos subúrbios e eles me atacaram. Celine chegou a tempo para bloquear uma flecha, depois disso corremos.

    Jessia colocou a mão no queixo, agora intrigada pela sequência de acontecimentos. Ela também seguiu explicando quem eram aquelas pessoas, e como o erro de segui-los virou um trunfo para a igreja de Lithia. Eles eram basicamente cultistas de entidades demoníacas, mais especificamente Muriel, um demônio do alto círculo infernal que dava muitas recompensas aos seus seguidores.

    — Não é a mesma criatura da última vez. Lembra dos cultistas na Vila do Dente? Eles cultuavam o dragão que invocaram, por isso pudemos derrotá-los, já que o culto era simultaneamente pequeno e não houveram sacrifícios o bastante para fortalecê-los.

    Assim como eu disse, eles são diferentes.

    O significado por trás das palavras de Er’Ika fizeram mais sentido. Nos estudos do Demonicon, ambos descobriram como demônios se regulavam por hierarquias e alguns deles eram mais influentes ou interativos com seus seguidores do que outros. Em outras palavras, a estrutura funcionava de uma forma semelhante a uma igreja, em que se o indivíduo prezasse pela entidade e fizesse seus mandamentos, receberia poder de volta. A diferença que as igrejas eram poucas, os deuses eram como forças absolutas e pessoas muito específicas eram escolhidas para tomar o dever de paladinos.

    Num culto, pela desorganização e a clara necessidade de atitudes extremas em prol de obterem poderes, qualquer um poderia receber essa “benção”, pois no final os demônios queriam destruir a vida alheia.

    — Calma, vocês já sabiam disso?! — questionou Liane, reparando no quão bem informada Jessia era.
    — Claro, moleque, os bispos e paladinos da igreja caçam eles fazem anos. Até me trouxeram para dentro pra tentar achá-los… o que, por coincidência, deu certo.

    A mulher esboçou um sorriso, mas sua falta de prática o tornava bizarro. Agora o garoto se encontrava com um rosto pasmo, querendo assimilar o bombardeio de informação. A parte mais complexa de se acreditar era obviamente o fato de Jessia ser uma verdadeira paladina.

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