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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    As exigências eram bastante simples: os textos da igreja a respeito do controle de energia divina. Er’Ika não queria envolver o garoto diretamente com os fieis de Lithia, temendo que seria exorcizado se encontrasse algum outro bispo radical ou um poderoso paladino cheio de convicção. Esses dois tipos nada lógicos irritavam-no, pois eram duas criaturas difíceis demais para se prever.

    Ele tratou de explicar que era para o bem do garoto, porque, como demonstrado antes, ambos possuíam uma certa capacidade de mexer nesse tipo de poder, carecendo apenas de experiência e conhecimento bruto. Essa argumentação levantou uma pequena bandeira de suspeita na cabeça de Vylon.

    — Me perdoe a pergunta, fada, mas você por um acaso seria algum tipo de criatura dos planos superiores?

    Uma criatura do plano superior era o equivalente a um anjo, um ser celestial que subjulgava o mal. Er’Ika, no entanto, não se enquadrava nessa classificação, na realidade acreditariam mais que fosse um demônio devida a sua natureza sádica.

    — Não, não tenho como ser. Mesmo duvidando da minha própria existência, garanto que sou um espírito. A diferença é que…

    Pensou em continuar falando, mas ao notar aquelas duas ali, parou de imediato. Essas duas saberem desse segredi crítico lhe atrapalhava, seria interessante o bispo saber para forjarem novos tratos quando precisassem. Poderia ganhar uma vantagem absorvendo as memórias dos inimigos dele e assim fornecendo informações cruciais.

    — Eu gostaria que aquelas duas saíssem. É um assunto importante demais para ouvirem.

    — Certo… Jessia, por favor — disse Vylon, realizando um sinal para que saísse junto com a garota.

    — Sério?! — A mulher mostrou uma péssima expressão, obedecendo com o cenho franzido e tirando Celine dali. — Aff, eu sou uma heroína, isso é tão chato e injusto! Você vai me pagar, fadinha!

    A porta bateu com força. Somente Liane ficou na sala pelo seu vínculo com Er’Ika e porque a informação já era conhecida por ambos, logo, não teria o mínimo problema estar ali. Isso ainda assim ativou uma certa preocupação no garoto, cujo objetivo original eram se manter com o perfil mais baixo possível.

    — Erika, você tem certeza disso? Eu não acho que seja uma boa ideia.

    — Ora, pequenino, confie no seu maior aliado aqui… — Os olhos brancos da fada enfim se voltaram ao bispo. — Sendo direto, eu posso absorver memórias e mantê-las.

    O bispo ficou boquiaberto por um curto momento, no instante seguinte recompondo a postura. As surpresas continuavam vindo mesmo quando acreditava ter visto tudo.

    — O que precisa para obter uma memória?

    — Preciso da pessoa morta e inerte.

    — E consegue pegar as de um ser espiritual?

    — Isso eu não tenho certeza. Nunca experimentei.

    Os olhos de Liane estavam arregalados. Era um medo das consequências daquela conversa, sua imaginação trabalhou a todo vapor para pensar no que ocorreria depois. Vylon demonstrava uma calma grande demais para simplesmente aceitar o fato quieto. Aquele segredo revelado assim deixou uma expressão pensativa no rosto do bispo, que pareceu também avaliar o que fariam.

    — Ou seja, temos alguém que consegue detectar fluxos de energia demoníaca e outro que consegue ver o passado das pessoas mortas… — Ele coçou o queixo, seus olhos brilhavam de uma maneira anormal, excitação se misturava no vazio espiralante das pupilas. — Hehe, eu pensando que tinha visto tudo nesse mundo, mas parece que as surpresas nunca acabarão. Também sei o que apronta, fada, você é diabolicamente astuta.

    Negociar com seres paranormais era dever das irmãs e do próprio líder da igreja, não de alguém desejando apenas o melhor para o povo e cujas funções se voltavam muito mais ao combate.

    — E o que me diz, bispo Vylon? — provocou a fadinha, batendo suas minúsculas asas. — Está disposto a dar um pouco mais em troca de uma expurgação completa?

    — Sinto que compraria até minha alma, seus olhos gananciosos não me enganam.

    — De fato, eu adoraria, porém seria uma afronta admitir que desejaria saber cada coisa que passa na sua cabeça. O que posso fazer? Sou um espírito muito curioso.

    Pela primeira vez em muito tempo, o homem largou uma risada. Liane tremeu com aquele riso vilanesco, o que piorou ainda mais quando Er’Ika se juntou ao coro e os dois orquestraram uma dupla maligna dentro do quarto. Era claro que Vylon jamais perderia tal oportunidade, mas a segunda parte da negociação foi breve, a entidade só desejava o conhecimento sobre os demônios e sobre outras fontes de religião.

    Esses conteúdos seriam providenciados outra hora, quando estivessem numa situação menos tensa para dá-los.

    — Eu entregarei um mapa para vocês. Quero que vaguem pela cidade marcando pontos que haja grande foco de energia demoníaca. Não se aproximem e vão durante o dia, é o momento que as seitas ficam menos ativas. Segundo, eu só pretendo entregar o que quer após uma expurgação bem-sucedida. A igreja entrará em furor, especialmente os demais bispos, e esse será o momento perfeito para sua recompensa. Se eu te desse agora, estaria em encrenca.

    — Justo… — concluiu Er’Ika. — O nosso acordo está selado, então. Foi um prazer negociar com você, bispo.

    Vylon esboçou apenas um sorriso e acenou com a mão para dispensá-los. Celine saiu junto de Liane, escoltados por agentes da igreja. Quanto a Jessia, ela retornou ao comodo, ainda muito curiosa sobre a tal conversa secreta — sabia que não ia receber nenhuma informação, contudo, custava pouco encher o saco daquele sujeito para incomodá-lo.

    Por outro lado, o que a impressionou foi a feição franzida dele, analisando um canto do quarto em pensamentos profundos. Ele apanhou a lança numa mão e encheu uma taça de vinho que segurou com a outra, bebendo do líquido vermelho para fazer sua cabeça funcionar melhor.

    — Você… tá enchendo a cara?! — A mulher ficou boquiaberta, era a primeira vez vendo-o assim.

    — Qual o problema? Beber deixa meus pensamentos melhores… — Respirou fundo, tomando um grande gole do vinho. — Chame a Santa Cristal, precisamos de uma reunião urgente com os outros.

    — Nossa, eu virei sua garota de recados agora?! Tá, mas por que essa pressa toda?

    — Nós vamos selar um espírito perigoso dentro daquele garoto, e eu preciso de todo apoio possível. Receio que eu mesmo morreria se tentasse sozinho o que farei.

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