Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 146: Refinamento do Deus Maléfico
De volta a casa, Liane desenhou um círculo com giz pelo piso e pediu para Celine ficar sentada no meio. Uma das coisas que aprenderam por meio do Demonicon e das aulas com Ludio foi o uso de formas geométricas para o uso de feitiços específicos. No caso dos cultistas, ele costumavam usar essa estrutura como meio de abrir um portal para o submundo, o sacrífico era a moeda de troca para obterem mais poder.
Ele não pretendia sacrificar Celine, na verdade, seria um absurdo escolher isso, Zana ficaria eternamente decepcionada se descobrisse que se rendeu as artes sombrias e descartou a amiga deles para acordá-la. Ao invés disso, a garota seria uma fonte de prática, um meio para melhorarem tanto as próprias habilidades quanto os atributos físicos dela.
O símbolo desenhado era necessário para guiar a energia do corpo em determinada ordem. Eles por conta própria possuíam efeito nulo, servindo de molde para o tipo de magia a ser evocado. Por causa disso, a igreja de Lithia era representada por um triângulo, pois inúmeras reações aconteciam com o uso dele, envolvendo principalmente feitiços de dano quanto de exorcismo.
Liane uniu as mãos, então a separou formando uma esfera com os dedos. Estática circulou pela ponta dos dedos e fluiu de um lado para o outro, até descer pelos pés e adentrar a marcação. O perímetro foi coberto por energia, representado por barreiras boreais que subiam e desciam de acordo com a intensidade da fonte.
— Erika, é a sua vez.
— Sim, eu entendi…
A entidade assumiu sua forma tradicional de sombra. O corpo de fada exigia um certo nível de controle do qual não estava disposto a usar no momento, especialmente quando tinham pressa para o aprendizado. Er’Ika lambuzou as dezenas de centenas de lábios, mais do que satisfeito com a onda de conhecimento que obteria com a cobaia.
A presença opressora do monstro causou tremores em Celine, mas ela continuou parada, lançando sua confiança inteiramente no seu mestre. Er’Ika se aproximou das costas da garota, o primeiro objetivo era analisar o organismo por inteiro. Havia um diagrama detalhado na sua memória de como era a anatomia humana, porém era de uma criança de sete anos, ou seja, era uma referência fraca.
Ele ergueu um pequeno espinho das sombras e furou a superfície da pele de Celine, lançando um pulso de energia para sondar a carne. Rapidamente adquiriu a informação que precisava, mas também ficou bastante impressionado com o que encontrou.
— São muitas cicatrizes. Mais do que a maioria das pessoas que encontramos.
— Cicatrizes? — questionou Liane, erguendo a sobrancelha. Não houve nenhuma resposta por parte da garota, então era melhor manter o assunto quieto. — Você deve ter passado por maus bocados, mas a gente não te julga. Não vamos nos preocupar com isso.
Er’Ika deixou passar aqueles detalhes, vendo agora os órgãos. Estavam em perfeito estado e se desenvolvendo. Celine era uma garota com cerca de onze anos, ou seja, logo entraria na puberdade e teria um surto de crescimento. Não adiantava muito adiantar esse fenomeno, pois levariam meses ou quem sabe um ano inteiro para devidamente se manifestarem, tempo que não tinham para esperar.
O próximo ponto a se averiguar eram os musculos. A anatomia masculina e feminina se diferenciavam em qual grupo muscular mais recebia nutrientes, nas mulheres, por exemplo, a parte inferior do corpo ganhava mais suprimentos, enquanto nos homens boa parte se voltava a parte superior. Er’Ika veio a ter essa hipotese depois de se encontrar com muitas pessoas e observar como o corpo deles eram, logo, tomou uma média e a métrica veio a apontar nesse ponto.
— Mestre, está tudo indo bem? — perguntou Celine, querendo entender o que eram as sensações ao redor, os estalos e a estranha movimentação abaixo de si.
— Sim, está. Erika só começou a tomar notas e vai começar o processo logo logo. Espere mais um pouquinho, tá?
A entidade puxou um pedaço da energia pelo círculo, moldando igual um tipo de agulha e criando várias outras que foram equipadas a apêndices saindo do corpo sombrio. Ele já tinha feito o procedimento uma vez, mesmo que de jeito desleixado e apressado, por isso queria fazer o melhor possível. Seus membros atravessaram a pele, alvejando diretamente a carne, os músculos e os órgãos.
Er’Ika precisava melhorar tudo, cortar qualquer parte ruim e substituir por uma versão poderosa.
O organismo regenera partes específicas, mas tem seus limites. Mesmo que eu cortasse o figado várias vezes, cedo ou tarde ele entraria em falência pelas células não se replicarem corretamente. Escolha as piores partes, remova, deixe melhores por cima, estresse as fibras, reconstrua.
Desse pensamento, começou a complicadíssima operação. Celine rangeu os dentes, suor despencou do rosto, as mãos apertaram o máximo possível a bainha do vestido. Doía, era uma dor lacerante que superava as sessões de treino na Lâmina Fantasma quando se automutilava. Não só isso, mas parecia que algo estava rasgando-a de dentro para fora, dilacerando partes diferentes e rapidamente dissipando a dor, apenas para trocar para outra área e repetir a sensação.
Er’Ika estava em pleno foco, o mundo ao redor se tornou mudo. Ele queria deixar tudo perfeito, arrancar imperfeições pela raiz e forçar o organismo a colocar uma melhor no lugar. Também trazia truques quase microscópicos para estressar as fibras musculares e outras serem construídas por cima, tomando o devido cuidado de não ir além do que devia.
Parou em dado momento para alimentá-la com uma poção de cura, um dos presentes de Jessia que guardava para situações extremas. O corpo de Celine se encheu com novos nutrientes, algo perfeito para continuarem o trabalho. A entidade dividiu sua consciência e movimentou tanto as células quanto administrou o processo. No final, a garota tinha apoiado as mãos no chão, tudo girava ao redor e zunidos tomaram conta da cabeça.
Ao menos, o processo foi concluído. Er’Ika retornou a Liane, deixando para trás uma nova cicatriz. Era uma fenda nas costas, com um ponto central que mimetizava um olho.
Está concluído. Fiz o que pude para modificar a estrutura corporal ao pico, e também inclui algumas coisinhas a mais…
— Pera, o que foi que você fez, Erika?
Veja por conta própria.
Raios elétricos emergiram ao redor de Celine, os olhos, antes sem vida, tomaram um tom amarelo. Ela não enxergava, mas por algum motivo, o mundo inteiro pareceu ganhar um novo espectro de cores.
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