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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Celine estava acostumada a palavra “matar pessoas”. Ela fez isso sua vida inteira, seja ao lado de Zana ou por conta própria, logo, arrancar a goela de um alvo a subestimando por ser nova era uma tarefa comum… o problema agora vinha ouvir essas palavras de seu mestre, Liane. Desde o princípio, havia aceitado que sua vida era amarga e escura, que não devia se importar com tantas vidas tiradas e ver fluxo das suas ações tomarem as rédeas do destino.

    No entanto, ela não via Liane da mesma forma. Seu mestre era uma pessoa gentil, que oferecia a mão até para uma serviçal cega como ela, cuja função no mundo real seria o mesmo que nada. Onde quer que fosse, sua deficiência a faria ser rejeitada e considerada uma pessoa amaldiçoada. Uma jogada de sorte permitiu entrar na Lâmina Fantasma e se tornar alguém por meio de seus esforços.

    “Por que deseja traçar o mesmo caminho?”

    Um suave tremor tomou a pele de Celine. Dúvidas emergiram se devia mesmo ir contra a vontade de seu mestre, pois sabia o quão perigoso era, e mesmo com a ajuda da fada Er’Ika, ainda teriam problemas se lidassem com muitas pessoas. Ela também não tinha pleno controle dos novos poderes que obteve, criando paranoias sobre um mar de possibilidades se desdobrando à sua frente.

    Liane era cheio de mistérios, sua fada e a forma como tratava demônios com tanta naturalidade chegava a lhe soar ridículo, e por causa desse conjunto de variáveis que uma resposta certa escapava da garganta. A chance dele morrer, assim como quase aconteceu quando saíram no meio da noite, pareceu uma foice presa na sua garganta. Com o mestre morto e madame Zana incapacitada, o que faria? Ela seria novamente uma garota abandonada, sem a quem recorrer, imersa num ciclo de dor.

    — Celine? — chamou o garoto, tocando em sua mão. — Você me ouviu?

    — Sim, escutei, mestre…

    — Pois vamo se preparar o mais rápido possível, assim a gente…

    — Eu sou extremamente contra esse plano.

    Ela apertou os dedos de Liane, aquela era a melhor forma de impedí-lo de fazer qualquer besteira. Poderia ser um desrespeito na sua função de serviçal, mas era o único meio.

    — Hã? Por que? Agora é nossa chance!

    — Mestre, essa forma de pensar é equivocada. Não se lembra do que aconteceu da última vez? Se não fosse pela paladina Jessia, estaríamos mortos. Eu não… não posso permitir que você vá…

    — Mas Celine, essa é a forma que podemos virar o jogo, a irmã Zana tem pouco tempo.

    — Mesmo assim!

    Ergueu o tom, pela primeira vez falando com o coração ao invés da mente. Os arcos elétricos ao redor de Liane mudaram, desenhando olhos arregalados e a boca aberta. Ele estava assustado, além do mais, era sua primeira vez vendo Celine tão resistente.

    Ela se sentiu suja por dentro, culpada por tamanha desobediência. Abaixou o rosto, devia conter os excessos para si mesma, apenas para o coração machucado. Seu mestre não devia ver aquele lado.

    — Desculpe, me emocionei. Eu só quero dizer que é perigoso fazer isso por conta própria. Mesmo que seja o plano da fada Er’Ika, ainda acho absurdo. Sei que pode usar diversas magias e que possui relações com homens importantes, como marquês Sion e bispo Vylon… só que, por favor, não faça isso. Meu dever é protegê-lo, se o mestre morrer, o que será de mim?

    As palavras travaram na cordas vocais de Liane. Celine teve certeza de que atingiu um ponto fraco. Seu mestre podia esconder segredos sombrios, ou até se relacionar com o além, no entanto jamais perdeu a gentileza que demonstrou quando se conheceram. Ela acreditava que fosse um garoto egoísta de passado misterioso, e acabou inevitavelmente agradecendo aos céus por estar grandemente enganada.

    Esse menino tão simples e cheio de circunstâncias exóticas ao seu redor era uma boa pessoa, alguém que se preocupava com quem estava ao redor e que fazia o possível para confortá-los.

    — En-Entendi… — respondeu, recuando um passo para trás. — Então que tal só fazermos nossa investigação? Assim, podemos pedir ao bispo para atacar os locais.

    — É o mais sábio, mestre Liane. Devemos não entrar em risco se tivermos a chance.

    Pela primeira vez em muito tempo, leveza tomou conta do corpo de Celine. O peso circulando os ombros sumiu com o “Uhum” do mestre, que pareceu acatar ao pedido.

    O dia seguiu um pouco diferente do costumeiro, com os dois tomando um quarto no andar de cima. Era um pouco mais espaçoso que o cômodo original na morada dos subúrbios, havia uma única cama larga. Outra pessoa dormiria em outro lugar, e obviamente Celine forçou Liane a escolhê-la ao invés de tomar o jeito cavalheiresco de impedi-la. Era sua forma de retribuir pelo pedido egoísta.

    Durante a noite, sabia bem que ele teria uma sessão meditando com a fada Er’Ika. No entanto, a jovem cega viu isso como uma oportunidade de também aprender mais. Ela resolveu tirar um pequeno momento do descanso para praticar sua recém-adquirida habilidade. Não estava acostumada, era muito diferente de presenciar as auras no ambiente e agir de acordo.

    Conseguir notar os contornos das coisas, assim como ter a noção de uma esfera os rodeando, parecia algo de outro mundo. Dificilmente admitiria a Liane, mas estava feliz de poder enxergar um pouco do mundo real, nem que fosse apenas uma fração. Algo preto com amarelo, cheio de imperfeições e contornos por todos os lados, mas visível e vivo.

    Uma faca rodopiou acima de sua cabeça, girando para vários ângulos e se movendo por conta própria, como se um fantasma a segurasse. Na verdade, era Celine praticando o poder na sua adaga, testando diversos ângulos e impulsos diferentes. À primeira vista, não parecia muito útil, mas levando em conta como a maioria esmagadora das armas e objetos eram feitos do mesmo material, via-se uma versatilidade absurda. Poderia afastar, puxar e até atacar a distância se necessário.

    “É um presente que ele me deu.”

    Essa foi a conclusão final. Ela pretendia usar esse presente para protegê-lo, para que aquele mesmo perigo nunca mais se repetisse.


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