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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    As galinhas cacarejaram para agraciar um belíssimo começo de dia. Para Celine, no entanto, esse dia estava proposto a ser péssimo. Ela virou a noite treinando sua nova habilidade e também se atentou aos barulhos dentro da casa para ter certeza de que o mestre Liane não sairia, prevendo que tal cenário aconteceria considerando a personalidade dele. Para sua surpresa, nada aconteceu, somente o vento soprou do lado de fora sem dar nenhuma indicação de que mais alguém estava lá fora.

    Esse esforço adicional custou a garota um bom cansaço, mas estava acostumada a situações adversas, precisou somente de um cochilo breve na manhã para se erguer com força total. Equipada com um pano molhado e vassoura, fez a faxina que havia se acostumado e que se tornou sua rotina. Chegava a ser estranho como nas últimas semanas sua principal arma era o esfregão ao invés de adagas.

    “A última vez que lutei foi para salvar o mestre Liane, antes disso, apenas servi de ajudante para os trabalhos da madame Zana. Não precisei erguer um dedo para matá-los, ela fez isso por nós.”

    A Loba Vermelha estava num patamar de fato diferente, pois ela facilmente se livrava de inimigos problemáticos num piscar de olhos. Sua agilidade, força e até percepção eram sobrenaturais.

    Um episódio ficou muito marcado na sua cabeça, de quando fizeram um serviço ao professor Trion. Mesmo sendo um mago renomado e cheio de palavras honrosas, ele ainda precisava de alguém para um trabalho sujo, e para surpresa de ninguém, a Lâmina Fantasma era a quem se voltar quando farpas apareciam nos calos da mão.

    O pedido era simples: matar um aristocrata que desviou fundos da academia mágica.

    O professor tinha pouca chance de mover os demais ao seu favor, pois sabia que ignorariam o fato a troco de propina. Por isso, escolheu o assassinato.

    Zana e Celine invadiram a morada do aristocrata na noite, tendo pulado o muro por meio das moradas próximas e depois de misturado com as empregadas domésticas após furtarem os uniformes. Elas não esperavam que fosse muito efetivo, pois se caso encontrassem um indivíduo muito presente na morada, como uma governanta ou guarda antigo, seriam imediatamente identificadas e talvez mortas no local. Era um disfarce útil quando fossem vistas de longe, na escuridão ou nas sombras.

    Disso, as duas passaram pela segurança e conseguiram contato com o aristocrata durante uma refeição familiar. Celine pensou em cortar a nuca do homem naquela hora, só que foi impedida por Zana, que lhe disse ser impossível, já que se uma governanta ou integrante da família as percebesse, seria tarde demais. Ao invés de seguir com um procedimento padrão, ela preferiu esperar mais um pouco.

    O aristocrata estava sendo escoltado pelo corredor da mansão após a janta, pronto para retornar ao seu escritório. A Loba Vermelha usou sua rapieira na hora que ninguém mais estava, a ponta da lâmina carregada por fagulhas vermelhas. Antes de disparar, abriu as janelas no lado esquerdo, então acionou o gatilho da rapieira que disparou um projétil de chamas.

    O homem entrou em combustão no instante que suas vestes tocaram a bola de fogo, e continuou queimando até morrer. Era tarde demais para magias de água resolverem o problema, logo, os guardas vieram a procurar os invasores ao longo do terreno, sendo inicialmente distraídos pela janela aberta. Zana aproveitou a oportunidade para atear fogo em tudo, das cortinas aos quadros.

    A missão tinha sido concluída com sucesso e elas saíram em meio ao caos. Celine gravou o aroma de fumaça naquele dia e os gritos do aristocrata corrupto. Se aquilo era justo ou não, pouco importava para ela, pois no final do dia as moedas trazidas como compensação serviam para substituir a vida de alguém.

    “Não posso deixar o mestre Liane saber disso.”

    Ela revelou a faca na coxa anteriormente, no dia do beco, e pretendia evitar quaisquer situações onde suas habilidades como assassina aflorassem. Isso assustaria Liane, ou pior, faria-o se afastar por medo e insegurança, uma reação comum a uma pessoa perigosa por perto.

    Celine passou os dedos pela bainha da adaga, sempre se sentia segura quando fazia, mas seus impulsos precisavam ser segurados se quisesse manter o segredo escondido.

    Passos ecoaram de cima. A jovem afastou os devaneios da cabeça e retornou à prática comum de varrer o piso de madeira. Havia muita bagunça sobrando e o cheiro de mofo estava evidente.

    — Booom diua… — disse Liane, bocejando e engolindo as próprias palavras no processo. — Você já acordou, Celine?

    — Sim, mestre. Pretendo preparar o café da manhã assim que possível, levando em conta que Sir Merk não acordou e que você precisa sair cedo para a casa dos Tanite.

    — Obrigado. Ah, deixa que eu preparo o café!

    Aqueles mesmos passinhos seguiram rumo a cozinha, prontos para arrumarem qualquer coisa que pudesse ser feita com o acesso a comida de casa. Infelizmente, os armários estava vazios.

    — Ahn, Celine, acho que vamos precisar sair para comprar alguma coisa… — falou o garoto lá de dentro, retornando para a sala com um olhar decepcionado e uma barriga roncando. — Hehehe, desculpe.

    — Não há o que se desculpar, mestre Liane.

    A jovem escondeu o sorriso, provavelmente vê-lo agir daquela maneira tão dependente lhe trazia uma espécie de conforto. Como as escolhas estavam escassas e Sir Merk, o anfitrião, provavelmente acordaria mais tarde, Celine viu que a única solução cabível era comprar alguma coisa para aliviar a fome.

    Escondido numa bolsa cheia de seus utensílios pessoais, havia uma aljava com as economias que tinha acumulado desde ter saído dos campos de treino da Lâmina Fantasma.

    “Enfim posso usá-las para alguma coisa útil.”

    Cedo ou tarde, o dinheiro reservado serviria, o dia só tinha demorado a chegar.

    Ambos saíram da morada cedo da manhã para comprar mantimentos, e Celine tratou de segurar a mão de Liane para assegurar a sua segurança.

    Eles andaram lado a lado pelas estradas de terra batida, pela primeira vez a garota sentiu uma necessidade real de proteger alguma coisa, um desejo que almejava há tempos.


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