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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Verdan era uma cidade linda. O centro da cidade era demarcado por uma plataforma metálica circular, responsável por trazer diversos minérios do subsolo e também movimentar aventureiros, magos e guardas. Por ser esverdeada e contendo uma série de aparatos mecânicos importantes ao redor, a praça onde se situava a plataforma ganhou o nome de “Esmeralda”, em referência a cor e a riqueza que trazia.

    Liane e Celine passavaM exatamente por lá, comprando suprimentos e também alguns pães, o bastante para aguentarem por pelo menos uma semana sem problema algum. Esses materiais eram luxo para a maioria dos plebeus, a garota não pretendia pegar boa parte do estoque e andar pelas ruas carregando sacos pesados de comida apenas para ser roubada em dado momento.

    Quanto ao jovem mestre, ele olhava para os lados com uma grande admiração. Várias pessoas diferentes andando nas ruas, cavalos de variadas cores puxando carroças ao longo da praça, mercadores esfregando o perfume de comida cheia de óleo no ar… eram tantas coisas acontecendo simultaneamente que sua cabeça girava igual um peão.

    — Mestre Liane, não solte minha mão — falou Celine, puxando-o pela multidão.

    — Tá-Tá bom…

    O garoto decidiu apertar a palma, sentia-se mais seguro assim. Até mesmo lhe dava um certo dejá vù, de quando rolava por um gramado extenso ao lado de alguém. A lembrança veio borrada, havia uma pessoa ao seu lado, de cabelo preto e curto igual o seu. Não tinha rosto, mas os dedos estavam estendidos na sua direção, dizendo “Venha comigo”.

    “Que estranho… Eu estou esquecendo de algo?”

    “E você é sempre um chato. Às vezes não dá privacidade nem na minha cabeça!”

    Já te disse inúmeras vezes: se quiser que eu pare, ache um receptáculo e um meio de me tirar daqui. Não tenho culpa de dividir quarto na sua cabeça.

    Liane revirou os olhos, Er’Ika continuava tão rabugento quanto um velho coroca. Claro, não verbalizou e nem mentalizou, já que estava estampado no comportamento da entidade.

    “Como sabe? Ficou espiando ela no meio da noite?”

    “E tem alguma coisa que podemos fazer?”

    O menino acenou com a cabeça, sentindo-se um pouco culpado por usar Celine dessa forma. Queria abrir a boca e falar a verdade, do possível risco contido naquela alteração de Er’Ika, no entanto, agora era tarde demais para expressar qualquer preocupação. Ficar quieto preveniria qualquer problema, se mantivesse as palavras para si mesmo, talvez teria mais espaço para respirar e ajudar sua irmã primeiro.

    Enquanto andavam por Verdan, vez ou outra Liane tinha aquela impressão estranha no ambiente. Era de um calafrio, um presságio ruim escondido no horizonte, entre paredes de pedra e madeira. Aquilo sinalizava a movimentação de energia demoníaca, como ondas do mar quebrando na costa se dissipando depois de se lançarem contra a areia.

    Havia sim uma força oposta irradiando da catedral de Lithia, com o bispo Vylon, os fieis e outros indivíduos contendo poder divino. A sensação de estar entre essas duas era igual a de ter duas mãos pesadas esmagando seu corpo de cada lado, ele queria apenas que acabasse o quanto antes, e por isso estava ansioso para enfrentar a seita demoníaca de uma vez e permitir só uma dessas forças reinarem.

    Uma pena que tal desejo seria difícil de realizar. Inúmeras variáveis se desenvolviam acima e abaixo de si, deixando ecos na cabeça para resolver a situação. Antes de se dar conta, um sino soou acima dos seu cabelo, tirando-o daquele transe. O cheiro de pães voou ao nariz, quase levitando-o rumo ao balcão.

    — Mestre Liane, pode me os valores na tabela, se houver? — pediu Celine, afagando a palma da criança com o polegar.

    — Ah, sim. — Ele ergueu o queixo, tinha uma pequena placa no balcão que mal conseguia ler direito. — O pão é uma moeda de cobre a unidade.

    — Certo… seis pães, isso deve dar.

    Ela tirou o exato mesmo número de moedas e pôs na mão de Liane, que assim pôde entregar ao padeiro responsável pela loja. O homem, sem nem ligar tanto, separou tudo numa cesta simples de palha e devolveu.

    — E missão concluída! — Liane ergueu a cesta para cima igual um troféu. — Hora de voltar, assim podemos arrumar a comida mais cedo…

    Celine concordou, e segurando-o pela mão novamente, ambos saíram do estabelecimento rumo a estrada de pedra, de volta para a morada provisória do cavaleiro Merk. Um sorrisinho brotou no rosto do garotinho, imerso na calmaria de uma manhã fria, com o sol se esquivando das nuvens para tentar iluminar o mundo. Era um dia bom, mesmo que a realidade tivesse uma tremenda negatividade, aqueles momentos fantasiosos e cheios de ilusão davam uma graça de infância.

    Liane queria que momentos assim durassem para sempre, no entanto, sabia melhor do que qualquer um como essas memórias desapareceriam ao cair da noite. Nada feliz durava para sempre, e quando a felicidade existia em abundância, um grande mal oscilava no ar.

    Seus olhos pararam nas casas. A energia demoníaca flutuou, intoxicante e nociva como sempre. Mexia-se com violência, como uma força prestes a destruir tudo e engolir Verdan num estalo de dedos. Em contraste com o sentimento agradável e as ventanias quentes nas madeixas, um outro lado sombrio e com a voz dos mortos clamava justiça.

    “Sim, eu percebi. Está mais intenso que o normal.”

    Agora você precisa ser mais assertivo do que nunca. Confio em você, Liane.


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