Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 155: Lar Expurgado
A noite vinha se tornando um segundo lugar de conforto para Liane. Quando via a lua no céu, irradiando os telhados das casas e escondendo as estrelas detrás de um manto roxo, tinha a impressão de estar protegido, de ter alguém abraçando seu corpo em meio às sombras. Essa pessoa poderia ser Er’Ika, um outro demônio, um espírito ou até o próprio destino. Independente de quem fosse, por causa dela que a calmaria caia sobre sua consciência no instante que colocava os pés nas ruas.
Naquele momento, não pretendia fazer nada demais. Era apenas a atividade rotineira de marcar os lugares ao longo do mapa, usando uma pedrinha de carvão afiada para escrever sobre o papel. Um capuz estava sobre a cabeça, escondendo o rosto enquanto andava de lá pra cá, esquivando-se dos casais apaixonados aproveitando o tempo noturno, ou até dos bêbados gastando fortunas em hidromel.
Celine provavelmente seguia de longe, além do mais, Er’Ika indicava sua presença com uma pulsação fraca na distância, talvez uma silhueta andando pelos telhados e focada em perseguí-lo onde quer que fosse. Era algo bom, pelo menos qualquer problema seria resolvido antes mesmo de ter consciência.
Liane passou pelo centro da cidade. A ravina de minerais guardava os segredos da fortuna da cidade, mas naquele momento se encontrava desativada devido a hora. Quando fosse dia, os mineradores retornariam para as profundezas da terra e trariam mais riquezas à superfície. Não muito distante dali, encontrava-se a catedral de Lithia, uma das muitas espalhadas ao longo do reino, sendo especial pelo quanto seus fieis investiram na arquitetura.
“É bonita, muito bonita.”
Mas suja igual a todos os outros.
Ele marcou no mapa a catedral e o centro, rodeando a praça rumo aos subúrbios. Fazia um tempo que não andava por ali, mais exatamente desde o incidente com Zana, pois o medo de se reencontrar com aquelas figuras era real. Se não fosse pelo movimento de energia demoníaca, não iria ali tão cedo. Enquanto a entidade absorvia as partículas no ar, Liane usava suas habilidades em detectar o poder e pintava um novo ponto de interesse no papel.
As casas eram distantes umas das outras, ao ponto de lhe causar dor de cabeça por confundir as localizações devido a escala do mapa. A respiração perdeu o controle conforme se aproximava da casa que morou com Zana há pouquíssimas semanas, devia estar vazia desde que saíram de lá.
“Erika, por que… por que a energia demoníaca tá se concentrando ali?”
Pequenino, não se afobe. Os cultistas se aproveitam de locais abandonados ou sem moradores para realizarem seu culto. Já fazem dias desde que alguém apareceu na casa pela última vez, eles decidiram usar a oportunidade. Não se aproxime mais, eu cuidarei disso.
Uma ventania fria passou pelo peito de Liane. Arrepios eram comuns quando estava na presença de outros demônios, como o espectro que invocaram na prática do Demonicon. A criatura se materializou ao seu lado, parcialmente translúcido por natureza, então flutuou rumo a casa.
Er’Ika inseriu parte de sua consciência nele, compartilhando os “olhos” e acompanhando a visão conforme chegava mais perto. Não demorou para atravessar as paredes e lhe dar um panorama do lado de dentro, espíritos malignos circularam em voltas pelo ambiente, tratando-o como sua própria morada. O espectro se misturou ao turbilhão, comandado pela entidade, que pretendia analisar tudo ali.
No meio da sala, havia um totem de pedra envolto num círculo de invocação demoníaco, desenhado com sangue e tendo pedaços de vísceras ao redor. Desde muito tempo que Er’Ika queria entender como os cultistas foram capazes de espalhar tanto a própria influência, talvez esse objeto fosse a razão, servindo de catalisador para os poderes sobrenaturais e expandindo a energia sombria por onde queriam.
Certo, já tomei do noção do que está acontecendo. Você precisa se aproximar, Liane. Não é um ritual, na verdade, parece mais um tipo de contenção de espíritos…
“Te-Tem certeza? Isso tá me dando um pressentimento ruim…”
Posso garantir. De qualquer forma, esses seres de baixo nível não te farão dano algum enquanto estiver comigo.
O garoto engoliu seco e seguiu a ordem, dando passinhos em linha reta com um grande receio nas costas. A pressão só aumentou conforme a distância diminuía, calafrios vieram aos montes e seus músculos tremiam apenas por pensar no que estava lá dentro. Ele girou a maçaneta, a porta estava destrancada, e viu a exata mesma cena que Er’Ika havia descrito.
À sua frente, estava a rocha lapidada de uma criatura sinistra, um tipo de cão de múltiplas cabeças, com as patas e pescoços acorrentados. Era a representação de Muriel, o demônio da gula, um tipo de imagem similar a vista no Demonicon quando estudava.
Liane quis vomitar, a pressão ao redor piorava com o passar dos segundos. Ergueu as mãos, Er’Ika tomou o controle e realizou uma série de gestos, envolvendo o local numa película dourada fina para impedir qualquer resquício da assombração vazar. Agora era o trabalho dele de consumir esse prato oferecido pelos cultistas, e claro, devoraria com o maior prazer do mundo.
A forma de sombra saiu dos pés de Liane, enrolando nos espíritos circulando o totem e cravando os dentes nos seus corpos espectrais. O único que ficou à salvo era o demônio que invocaram, os demais sofreram o trágico destino de se transformarem em alimento para o deus faminto. O totem foi o último, sua apetitosa aura foi como mel aos lábios da entidade.
Lentamente, o poder sombrio residindo no objeto se dissipou, desaparecendo na noite como se não fosse nada. A peça de pedra se rachou em duas, os pedaços desabaram para lados diferentes e perderam qualquer força. Já Er’Ika, ele recuou um pouco para trás, ainda na forma de sombra.
— Isso deve resolver. Limpei cada traço, é para ter sobrado absolutamente nada.
— Obrigado, Erika…
— Não há o que agradecer. Ia fazer isso de qualquer forma… o que me preocupa são essas coisas…
Tentáculos se esticaram para fora da entidade, interagindo com as vísceras e um coração no meio da carne. O garoto segurou o desejo de colocar a comida para fora, ainda não tinha se acostumado com a naturalidade que a entidade tratava disso.
— Um coração saudável, pelo tamanho, julgo ser de uma criança. Os outros órgãos não sei decifrar direito de quem seria, só que garanto como esses bastardos são bem ousados… Hah, pelo visto, chegou a hora de reportar tudo o que sabemos ao bispo Vylon, não é mesmo?
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.