Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 158: Símbolo Usurpado
O tempo demorou para ir embora, com os incêndios se multiplicando a medida que mais cultistas eram trazidos a luz da verdade e eram queimados em praça pública. Liane ficou ao lado de Silva o tempo inteiro, usando o feitiço de dormir que aprendeu meses atrás com a demônia Milla para deixá-la imersa num sono profundo. Preferia que não ouvisse os gritos do lado de fora, nem que sua mente fosse perturbada pelos clamores absurdos daqueles homens insanos.
Quando a ouviu roncar, acreditou ser o momento ideal para deitá-la apropriadamente na cama e enrolá-la com um lençol. Ele pretendia ficar de pé por mais um tempo, de preferência observando o caos a se espalhar por Verdam. Aquela cidade nunca seria a mesma depois desse dia, haveriam histórias circulando por todos os lugares a respeito da Cruzada das Chamas, o nome dado ao evento que inundou uma região no caos. Seus olhos foram a pontos mais distantes, agora os subúrbios estavam em chamas, e pelo visto, lá os danos eram muito maiores, com árvores cedendo ao fogo.
Então, uma silhueta parou em frente aos portões da casa dos Tanite. Era uma mulher alta de cabelo longo e armadura branca, cujo rosto sempre demonstrava raiva e constante escárnio. De primeira, já sabia que era Jessia, nenhuma outra pessoa tinha tanto ódio pela vida comum quanto ela.
Liane desceu as escadarias e logo chegou na entrada, infelizmente o guarda quem lhe interrompeu na primeira vez que visitou os Tanite queria impedí-la de entrar, mas bastou o garoto falar algumas palavras para resolver o problema:
— Está tudo bem, ela é minha protetora. Pode abrir os portões.
— Finalmente, eu juro que ia afundar a cabeça desse retardado! — berrou Jessia, fazendo uma careta para o guardinha, que se encolheu e destrancou a entrada.
A paladina adentrou o terreno, com as mãos apoiadas na cintura e um tipo de marra comum de si mesma, como se pudesse mandar no mundo e ignorar as ordens dos outros.
— Seguinte, pivete, você fez um ótimo trabalho pro dia de hoje, então o bispo quer te ver. Só vim te buscar para garantir que nada desse errado.
— Entendi… é por algum motivo específico?
— Ele acha justo recompensá-lo com fama e reverência, mas antes precisa de alguém para ser o símbolo da cruzada, uma pessoa pura quem poderia ser o indicador de como há bondade no mundo, mesmo que até a catedral tenha sido marcada por presença demoníaca e… Argh, saco, essas palavras bonitas são veneno pra mim. Ele só quer que você faça uma aparência pública por uma questão política.
Liane emudeceu. Não gostava de chamar muita atenção, acreditando que isso causaria muitos problemas, porém, depois dos outros terem lhe visto na catedral e também dada a situação de Zana, talvez pudesse fazer um esforço a mais. Acenou com a cabeça, poderia adquirir alguns favores da igreja com isso, e caso Er’Ika não conseguisse informação o suficiente para curar sua irmã, o bispo ou alguém relacionado a ele poderia fazer algo a respeito.
Jessia o guiou pela cidade, o cheiro de fumaça intoxicou sua garganta, enquanto os olhos arderam pela luz das chamas. Corpos chamuscados estavam pendurados nas paredes de pedra, seus membros ocasionalmente caiam quando passavam por perto, resultado do estado queimado. O garoto preferia observar de longe, além do mais, sabia que todo esse cenário era um efeito forte demais para a mente e o estômago, tanto que naquele momento queria vomitar.
Ainda assim, cerrou os punhos e inclinou o rosto para frente, não demorando para chegar num palanque com três sujeitos presos a toras de madeira e sendo incendiados em carne viva. Não conseguiu desviar o rosto, os gritos de dor e a pele mudando de cor conforme as chamas consumiam seus corpos atraiam sua consciência, uma tortura eterna impossível de escapar.
À frente das fogueiras, o bispo Vylon estava lá com uma tocha na mão e a lança na outra, concentrando-se no espetáculo, do qual nunca se orgulharia, mas considerava absolutamente necessário. Quando Liane chegou, ele arremessou a tocha na fogueira e voltou-se a criança.
— Obrigado por vir, quero dar um ponto final a essa história por meio de você — disse, aproximando-se com passos lentos, como se seu corpo pesasse toneladas. — Vi cada lugar que me indicou, revirei a cidade e matei todos os que tinham laços com cultos demoníacos. Os próximos serão os nobres, eles são protegidos pelo status, mas uma investigação resolverá.
O bispo ofereceu a mão, e o garoto a segurou, sendo levado ao palanque próximo às figura incendiadas. Seu corpo enrijeceu, muitas pessoas o olhavam cheios de curiosidade e escondendo fúria, provavelmente não voltado a ele, e sim aos homens e mulheres impuros detrás de si que pagavam pelos pecados. Vylon chamou a atenção com um gesto de mão, pedindo para que se acalmassem.
— Hoje é um grande dia, irmãos. Os desaparecimentos, assassinatos e sequestros de hoje em diante foram resolvidos, tudo por causa dessa pequena criança. Foi ele quem viu as atividades suspeitas do grupo de cultistas, e por causa dele que daqui em diante estaremos livres dos seres malignos. Eu gostaria que todos agradecessem, pois sei como é difícil para um infante ter tanto peso sobre os ombros.
De um em um, urros de alegria e palmas encheram a praça. Muitos aclamaram Liane, cujo choque estava claro no semblante. De fato, merecia ser ovacionado, mas aparentava ser tão errado ganhar regalias da sociedade porque condenou a vida de inúmeras pessoas. Engoliu seco, um arrepio e traços de culpa subiram pelas costas, um sinal de medo, da ansiedade atravessando os ossos.
Queria responder algo, porém, seus ouvidos não captavam sons. As cordas vocais paralisaram, e seus olhos oscilavam entre o sorriso falso do bispo e a plateia em euforia. Ele levantou a mão e… sangue, sangue brotou nos seus pés. Não havia percebido a tempo, mas um corte cruzava a garganta, jorrando gotas vermelhas pelas roupas até a madeira no chão.
“Não consigo… respirar…!”
Liane caiu de joelhos. Uma luz brilhou ao lado, o bispo conjurou um milagre curativo. A ferida, ao invés de fechar, começou a arder e então se transformou em labaredas roxas, impedindo a regeneração.
Sua visão embaçou, a escuridão arrastava-se pelas pontas e focalizou numa única silhueta, um ser encapuzado de robes negras, que escondia os olhos nas trevas e cujo dedo estava apontado na sua direção.
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