Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 168: Sentença
— Liane é inocente e não merece ser isolado por meio de um retiro.
O martelo bateu, sentenciando-o a liberdade. Houveram gritos de comemoração, em especial de Silva, quem se apoiou nos ombros de seu pai e bateu palminhas o mais alto possível para escutarem. Cristal, mesmo com a expressão entristecida, parecia em parte aliviada pela escolha.
— No entanto, como cardeal, não posso ignorar a existência dessa entidade e também a chance dela se libertar novamente, então tenho que colocar limitações. A primeira delas é a necessidade de guardiões… dos quais pretendo escolher a santa Cristal e o bispo Vylon, para observarem os sinais do espírito. Além disso, não posso permitir que ele se movimente para fora de Verdan sem uma permissão prévia… Espero que entenda o porquê disso precisar ser imposto, senhora Lizabeta.
A mulher acenou com a cabeça. Era de suma importância controlar Liane para que a situação não repetisse, e para isso, precisavam olhá-lo a cada momento. Cristal se responsabilizaria por manejar o selo, enquanto bispo Vylon seria a força principal para protegê-lo quando estivesse em outro lugar. Os demais da igreja, ou até mesmo as pessoas com quem se relacionou, como seu professor Ludio, o paladino Grey e o marquês Sion, eram obrigados a zelar pela sua segurança.
Aquilo encerrou o Tribunal. Hileo desceu pela escadaria lateral, vendo cada fiel sair do salão coisas para conversarem, enquanto o menino julgado saltou nos braços de uma moça ruiva, a mesma cheia de queimaduras, sendo em seguida abraçado por ela. Era uma vista bonita, um momento que o cardeal poucas vezes viu durante sua vida, assistir tão de perto fez com que sua consciência acreditasse que realizou o certo.
Uma criança merecia a felicidade mais do que tudo, além do mais, condená-la soava inumano e perverso. Se fizesse, ele se assemelharia mais aos cultistas demoníacos que um cardeal.
Seus ombros caíram, no final, avistou Cristal se aproximando.
— Cardeal Hileo, a minha escolha foi a certa? — questionou, cabisbaixa e sem força na voz.
— Bom, senhorita, como não estou no seu lugar, não posso dizer, mas… eu creio que sim. Em todos os meus anos de vida, nunca encontrei uma pessoa que me fez questionar meus julgamentos, esta é a primeira vez. Talvez tenha sido precoce ou emocionado, mas não sou adivinho. Nós só podemos esperar pelo futuro e pela nossa deusa dar uma resposta concreta. Até lá, esperaremos pelo melhor.
— Eu entendo. Quando vi a catástrofe, fiquei com medo, temi pela morte do meu irmão e das outras pessoas, então selei aquele monstro e causei muita dor ao garotinho… por isso decidi perguntar. Quando minhas emoções passaram e me acalmei após colocar o espírito em contenção, tive pesadelos com os gritos de dor de Liane. Às vezes, quando olho para ele, me sinto suja por dentro.
— É um sentimento comum, santa. Você é jovem, ainda presenciará muitos momentos que te farão questionar sua índole e moral. Por ora, agradeça por estar entre nós, e por não se tornar um monstro.
Cristal acenou com a cabeça, agradecendo internamente as palavras do cardeal, que não demorou para ir embora. Ela por fim olhou para a criança e todos os seus amigos ao redor, que comemoravam em alto tom a liberdade do garoto, inclusive jogando-o para cima.
— Agora eu posso ir embora? — perguntou o garoto, enquanto era arremessado mais uma vez para o alto. — Ahh, isso tá me deixando mal…
Jessia deu um pequeno salto e o pegou no meio do ar, finalmente retornando-o ao chão.
— Sério, você estava prestes a chorar ali e ainda tem a marra de perguntar se pode sair? Você é ousado, pirralho…
— Hã? Mas a gente conseguiu, né? Tá tudo resolvido!
— Eu não consigo entender a tua cabeça.
A bandida coçou o cabelo e suspirou. Em seguida, os demais se reuniram ao seu redor, e quem decidiu tomar a palavra foi o bispo Vylon.
— Liane, eu espero que você entenda caso eu e os demais estejamos perto demais, então tomara que tenha paciência…
— Ah, mas não é problema! Os outros já fazem isso comigo!
— Os outros…?
Ele virou a cabeça para o lado, uma pequena nobre assobiava como se nada tivesse acontecido, enquanto a garota cega com roupa de empregada escondia qualquer vergonha por meio de uma cara de pedra. Havia também o caso de Ludio, quem era muito presente na vida de Liane pelo tanto de estudos que exigia do garoto, ao mesmo tempo que Jessia revirava os olhos em desgosto.
Aquelas pessoas eram meio pertinentes na sua vida, aparecendo quase todo dia, forçando-o a fazer milhares de coisas, ou seja, eles acostumaram-no a estar rodeado de gente e nunca ter privacidade.
— Eu tenho um pouco de pena…
— Pena? Como assim?
— Ignore o que eu disse, não é nada.
Outra leva de risadas empurrou o assunto para baixo do tapete. Cristal esboçou um pequeno sorriso observando as interações entre aquelas pessoas, mas já era hora de partir. Seus deveres para a catedral de Verdan exigiam máxima atenção, pois ela seria realocada para aquele lugar como forma de garantir a segurança do selo na entidade Er’Ika.
Dali em diante, haveria também uma enorme reconstrução para a cidade, que havia sido destruída em várias partes do território. O trabalho parecia nunca acabar, na verdade, crescia correspondente ao tempo. O rosto de Cristal se transformou numa melancolia repentina. Ela ainda se questionaria por longos anos se de fato valeu a pena usar sua raiva como motivador para o Tribunal, ou se manter aquela entidade trancada dentro da criança valeu a pena.
— Irmã.
Os passos congelaram no piso. Seu irmão estava na sua frente, igualmente parado.
— Eu acho que o resultado te causou muita frustração…
— Nem tanto. Eu percebi tarde demais como estava sendo extrema.
— Mesmo? Te ver confessando assim é raro. Bateu a cabeça em algum lugar para perder o orgulho?
— Ora, seu…!
Por um momento, Cristal pensou em atingí-lo na cabeça com seu cetro, contendo a vontade por todos verem-na. Sua vontade recuou, jogada para longe.
— O que você quer? Veio esfregar na minha cara?
— Não. Eu só queria te dizer obrigado por ainda dar uma chance de Liane se defender, e pedir desculpa pelo jeito que te tratei.
Grey se aproximou e bateu no ombro dela, antes de seguir em direção a comoção criada ao redor daquela criança. Cristal encarou aquilo mais uma vez e enfim foi embora, guardando no coração a imagem e os eventos daquele dia.
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