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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Jessia mal teve tempo de respirar antes de ser levada.

    A porta se fechou com um baque seco atrás dela, a escuridão na sala absorvia o mundo ao redor com suas presas expostas prestes a destroçarem carne. Não havia janelas. A luz vinha de um luminorbe preso ao teto, cuja luz fraca mostravas as partículas de poeira rondando aquela sala com uma brisa invisível, projetando sombras longas nas paredes.

    Era um cômodo pequeno, sem nada além da mesa, três cadeiras e o cheiro de mofo velho. Ela olhou para frente e se recusou a se sentar de primeira.

    Duas figuras ocupavam seus lugares com a solenidade de um ritual de execução. Vylon mantinha os olhos fechados como em oração, com as mãos unidas sobre a mesa e os dedos cheios de calos de tanto manejar sua lança contra os cultistas demoníacos que feriram a imagem de sua deusa.

    Já o marquês Sion estava imóvel, usando um manto de lã grossa, cinza-escuro, com a gola alta e estruturada escondendo parte do pescoço, enquanto um broche ornamentava o peito com o símbolo de uma serpente, o brasão dos Tanite e também a espada que levou muitos a ruína.

    Os olhos de Jessia alternaram entre os homens como se analisasse inimigos no meio de uma batalha. Sentia na pele que queriam matá-la, mas que continuavam parados por uma questão de respeito, ou até mesmo para buscar qualquer sinal de fraqueza na sua postura teimosa de continuar em pé.

    — Vamos direto ao ponto — disse o marquês, sua voz era mais seca que o ar na sala. — Por que você ainda não foi executada?

    Jessia ergueu uma sobrancelha.

    — Porque os outros me entendem como uma heroína?

    — Esse heroísmo inclui o sequestro de crianças nobres, a destruição de propriedades da fé, ou o soco que desferiu na face da santa?

    Ela inclinou levemente o corpo para o lado. Entendeu depressa o que o bispo queria dizer, na verdade, aquele homem possuía mais emoções que o pai de uma filha ao seu lado. A mulher deu de ombros e revirou os olhos, odiando imaginar que tipo de sermão levaria em seguida.

    — Dependendo, sim. Nunca ouviu a história de uma figura corrupta da igreja sendo deposta por um plebeu depois de fazer um erro grotesco com sua posição?

    Ela esperava um tapa. Um grito. O som de uma condenação. Mas nada veio.

    — Quem te contratou? — perguntou Sion, direto.

    Jessia não respondeu de imediato. Pensou nos nomes que deveria manter no silêncio. Pensou nos acordos feitos por trás das cortinas entre copos de vinho, ameaças sussurradas e diamantes sobre a mesa. Ela havia aceitado aquele trabalho porque não tinha escolha. Havia pouquíssima honra em morrer tentando desafiar um assassino com a faca apontada para sua garganta — ela, como uma sobrevivente do mundo desde a tenra idade, sabia disso melhor do que qualquer um.

    Dependendo de como esse pequeno interrogatório seguisse, estaria num risco imenso. Certas figuras do mercado negro e do crime poderiam muito bem querê-la, pois o esquema arquitetado detinha uma organização assustadora. Disso, a melhor opção era uma figura pública, alguém que de fato estava repleto de razões para ser morto ao invés do verdadeiro cúmplice.

    — Conde Minus — Enfim puxou a cadeira para trás e se sentou. — O trabalho era sequestrar uma garota em uma rota pelo marquesado. Fiz isso, depois você invadiu meu esconderijo, atacou meus homens e eu tive que fugir com o que restava.

    — E aí ajudou o garoto. — Vylon o disse sem tom, como se afirmasse uma anotação.

    Liane era um garoto fraco, incômodo, inconveniente, mas que poderia ser vendido por muitas moedas de ouro por causa de um talento mágico latente. Seu plano original era chegar a Vila do Dente e encontrar o primeiro vendedor de escravos disponível para se livrar da criança, no entanto inesperadamente se atrelou ao garoto no tempo de estadia, tendo sido instigada pelo seu jeito diferente e também sentimento conflitante de ver sua sequestradora como uma amiga.

    Por algum motivo, Jessia tardou o compromissou e nunca o vendeu, acabando nessa situação.

    — Ele não estava incluso no trabalho. Foi um extra…

    — Você desenvolveu simpatia por ele? — Sion questionou, carregando desdém na voz.

    — Eu aprendi a respeitar quem não tenta te matar enquanto dorme. — A bandida levantou o queixo, querendo claramente afrontar o cargo do marquês. — Não é como se posso falar o mesmo de vocês…

    Dessa vez, o silêncio se alongou. O bispo abriu os olhos pela primeira vez, sem o brilho habitual de vida nas pupilas, e encarou Jessia diretamente. Não havia raiva por trás de seu semblante, como se o fato de ter batido numa santa e manchado a reputação dos paladinos tivesse pouca relevância.

    — Você não está sendo julgada, ainda. O motivo de nos reunirmos aqui é porque suas proteções acabaram, Jessia. O marquês deseja satisfação com o que fez, e eu não posso ignorar seu pecado.

    — Então me julguem logo, ou me matem, ou façam o que quiserem. Estou de mãos atadas e estou velha, não há muito o que posso fazer nessa situação além de dar os ombros e jogar umas informações na esperança que me deixem em paz.

    — Há pelo menos um pouco de esperteza na sua cabeça, pelo visto… — Sion ainda estava imerso numa fúria paterna digna de alguém que quase perdeu a cabeça quando Silva sumiu. — Trate de me contar exatamente o que aconteceu para esse serviço. Você era uma criminosa antes da sua carreira ser repaginada pela igreja após a Vila do Dente, obviamente tem detalhes faltando na sua história.

    — Certo. Não é como se eu fosse sair viva daqui se eu mantiver minha boca fechada demais… porém, que fique claro, tem gente grande nesse vespeiro. Se eu abrir a boca demais, ninguém nesse mundo vai me manter viva, não importa o quanto eu pague.

    Ela suspirou e enfim revelou o jogo. Deu o nome exato da pessoa, o irmão mais novo do atual Conde Minus, Sir Musk. Não era exatamente o cabeça da família, mas o desejo dos dois se alinhavam muito bem. Por causa da fama de Jessia na região livre de Kirstein, ela era perfeita para sequestrar Silva Tanite e ser bem paga pelo serviço, além de dar uma posição favorável a essa família para coerções e ameaças cheias de razão — em outras palavras, era um movimento feito para desestabilizar os Tanite e tomar seus recursos e terras, elevando a influência do condado.

    Conforme revelava as informações, Jessia observou uma evolução no rosto do marquês, que lentamente ganhou mais veias pulsantes e uma cor avermelhada. Era meio assustador, mas para garantir sua própria vida, precisava jogar uns petiscos e cartadas. Depois disso, ela teria que achar um plano para sumir do mapa e nunca mais se encontrar de novo nesse jogo de poderes.

    “Eu odeio a nobreza por serem tão desgraçados com o dinheiro que tem…”


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