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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    A vida de Liane retornou ao padrão de antes. Pela manhã, tomava um ótimo café da manhã com Celine, Zana e Sir Merk. O motivo de ainda estarem lá era devido aos problemas de saúde e fragilidade corporal de Zana, ela não tinha a mesma resistência e nem força de antes, por consequência, não conseguia trazer renda para dentro de casa como fazia.

    O marquês Sion então gentilmente obrigou seu capitão a acolher essas pessoas, especialmente devido ao resultado do Tribunal Divino, e assim ele não teve como recusar — claro, perderia a cabeça caso tentasse. Depois de aproveitarem um bom tempo juntos pela manhã, Merk escoltava o garoto para a mansão dos Tanite e o repassava para Grey, quem tratava de observá-lo durante os treinos com Silva.

    Tudo fluía bem, exceto por um grande problema que apareceu desde o selamento…

    — Liane, você tá bem?!

    O garoto não viu nada do que aconteceu. Antes que percebesse, sua cabeça tinha sido atingida por uma espada de madeira e ele caiu de bunda no gramado, sangrando no meio do couro cabeludo. Grey correu para curá-lo e retornar ao seu estado normal, o garoto rapidamente se levantou como se aquilo nem tivesse doído e soltou uma risadinha para sua amiga nobre, quem lhe golpeou em cheio.

    — Claro que tô bem! Vamos de novo, Silva!

    Mesmo preocupada, ela concordou e os dois retornaram a posição inicial. Niara deu o sinal para iniciarem o embate, Silva cortou a distância rapidamente e estocou com a espadinha, então Liane aparou e jogou a ponta da arma da oponente para o lado, retaliando com um golpe de cima para baixo. No entanto, a nobre recompôs a postura em um breve momento, conseguindo esquivar do golpe e batendo na barriga do garoto, marcando assim outro ponto no embate.

    A tutora Niara estreitou os olhos e indicou começarem outro combate. Grey ficou ao lado dela, igualmente observando aquela cena das crianças praticando esgrima. Havia se tornado uma visão comum no dia a dia, especialmente da espadachim que os acompanhava desde o começo do treino, mas era inegável que a preocupação saia aos montes pelas expressões faciais.

    — Algo de errado, madame Niara? — questionou o paladino.

    — Liane está mais lento e desleixado do que antes… — A mulher apoiou uma mão no queixo, analisando cada mísero movimento da criança. — Ele demonstrou um progresso grande desde que começou a praticar com Silva, mas agora, parece ter ficado vários passos para trás. Silva não conseguia atingí-lo tanto assim e muito menos dominava a batalha com facilidade.

    — Pode ser uma consequência do selamento.

    — Como assim?

    — Indivíduos que passam pelo ritual de selamento sofrem alguns efeitos colaterais. A depender do comportamento do espírito, quando ele é desativado pelo selo, o receptáculo pode revelar sinais de fraqueza e também perder muitas de suas capacidades sobrenaturais.

    — Você acha que Liane está passando por isso? Que aquela entidade era responsável por colocá-lo num patamar acima da senhorita Silva?

    — É minha suposição de acordo com relatos da igreja. Não posso garantir, só estou levantando a hipótese por conta do elo entre a entidade e o garoto, que eram muito próximos e que aparentemente Er’Ika ofereceu muita ajuda para Liane aprender magia. Talvez o mesmo tenha acontecido com esgrima.

    Aquilo era uma triste verdade. O garoto se sentia muito mais fraco e lento comparado a antes devido a falta de Er’Ika, quem tratava de deixar seu corpo em estado de pico e controlava os menores detalhes do organismo. Sem esse fator, o sistema interno de Liane voltou ao funcionamento de um humano comum, mantendo somente a memória motora e parte dos atributos físicos adquiridos até então.

    O mesmo se aplicava a magia. Ao terminarem a sessão de esgrima na mansão dos Tanite, Grey o levou para a morada de Ludio, quem ensinava magia durante o tempo da tarde. Assim como a espada, o poder mágico de Liane diminuiu grandemente, os relâmpagos de energia pura que antes disparava enfraqueceram ao ponto de não mais destruírem simples bonecos de palha, enquanto as chamas conjuradas pelas mãos nem conseguiam mais derreter metal.

    A frustração do garoto ficou mais evidente com o passar dos dias. Ele já não conseguia acompanhar o ritmo antigo e tudo o que construiu enfraqueceu, um reflexo de sua dependência a Er’Ika. Ao menos, uma nova tarefa entrou no seu cotidiano, uma que antigamente não estava inclusa: o estudo de textos divinos e a adquirição da energia divina.

    Com o selamento do deus, os poderes relacionados ao poder demoníaco e divino desapareceram por completo, considerando que Liane não havia desenvolvido uma habilidade completa neles. No entanto, o bispo Vylon não esqueceu da promessa feita, e se ofereceu a ensinar o que pudesse.

    — Escute com atenção: a deusa Lithia ouve preces sinceras e os milagres surgem por meio da fé. Sem fé, não há força para nos apoiar. Ela conversa conosco por meio de acontecimentos e por vontades, eu inclusive acredito que a deusa estaria mais do que felicitada para ajudá-lo, então venha comigo.

    O bispo levou Liane para um pequeno templo montado em Verdan no lugar da catedral em ruínas. Muito da cidade precisava ser reconstruída, mas as pessoas ainda queriam expor seus desejos à figura de Lithia, e por isso ergueram um templo modesto para que suas preces fossem atendidas.

    O garoto se ajoelhou ao lado de Vylon, seguindo suas instruções de fechar os olhos e expor os pensamentos mais íntimos na sua mente. As palavras de Er’Ika sobre como mana, energia divina e demoníaca eram as mesmas coisas apareceram, no entanto, ele se concentrou em “falar com a deusa”. Ainda assim, nada atendeu seus pedidos, como de se esperar.

    “Eu não tenho mais o que dizer. Tô fazendo certo, deusa?”

    Isso ecoou na vastidão escura da sua mente, agora vazia e sem a presença da entidade. Às vezes era bastante solitário, especialmente antes de dormir, quando estava só com a própria consciência repetindo as coisas em eco.

    — Não se preocupe, nós construímos a fé com o tempo — explicou Vylon, levando-o dessa vez a uma parte separada do templo, onde papiros antigos e grandes feitos dentro da religião foram registrados. — Agora, vamos estudar sobre história. Se você será um membro da igreja, precisa aprender tudo.

    Liane suspirou. Odiava estudar com a força de mil sóis, mas quem era ele para reclamar quando vinham ajudá-lo? Se quisesse realmente um dia realizar o desejo de Er’Ika, obviamente seria forçado a fazer o que menos gostava! Com um rostinho convencido, ele se sentou na mesa e puxou os papiros, ouvindo atentamente aos ensinamentos de Vylon.

    Uma silhueta brilhante o encarava de muito longe, além das nuvens e do plano mortal. Ela parecia sorrir contente, encantada pela simplicidade dessa criatura, e se propôs a olhar pelo tempo que fosse necessário.


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