Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 177: Retrato Artístico
A família real era, obviamente, o conjunto de pessoas mais importantes de Kirstein, e por consequência chamavam atenção de qualquer um. Eles eram conhecidos por uma aura angelical capaz de encantar os outros e fazê-los obedecerem. Seja mágico ou não, Liane experimentou de primeira mão aquele poder, tendo que ceder às vontades de Silva para acompanhá-lo nos corredores do castelo Valtóris.
Era muito estranho o príncipe herdeiro se comportar daquele jeito, considerando a posição de Liane como plebeu — se fosse apenas Silva, estaria tudo bem dado ao status, mas a diferença entre os dois era imensa demais para estarem tão próximos. Por segurança, ele escolheu manter a boca fechada o caminho inteiro, já que sua habilidade com etiqueta nobre também era baixa demais para interagir.
Ao menos, o passeio distraiu o suficiente sua amiga nobre, que continuou falando sobre toda peça histórica que passavam. De longe, Celine, Merk e Grey acompanhavam o passo daquele trio, sendo a garota cega a mais normal dos três, pois andar perto de dois homens altos e bombados dava uma impressão muito esquisita.
Celine também era atenta o bastante para notar o desconforto de seu mestre, e percebeu um detalhe muito sucinto nas sombras dos corredores: algumas silhuetas iam de um lado para outro, rodeando o príncipe e pondo uma parte do grupo para observá-los. Essa habilidade era equiparável a madame Zana, o que causava calafrios na menina que aparentava ser a única que notou aquelas presenças escondidas.
Eles chegaram ao pátio do prédio, onde os integrantes jovens de famílias nobres estavam reunidos, desde crianças a adolescentes. As figuras sinistras não desapareceram, apenas se adaptaram ao ambiente e tomaram uma distância de atingir qualquer pessoa perto do príncipe com uma faca assim que demonstrassem ameaça. Ela pensou em seu mestre de perto de Ranviel, temendo algum desentendimento geraria um assassinato, dessa distância seria muito difícil para alcançá-lo e protegê-lo, se é que daria tempo para conseguir isso em primeiro lugar.
Naquele ambiente em específico, guardas e empregadas estavam a uma distância respeitável, permitindo que os jovens nobres interagissem sem uma presença a mais. No entanto, Celine sentiu vários olhares em sua direção. Estavam sendo analisados, especialmente Grey, que era o único paladino ali.
“Isso não é bom…” As silhuetas dos indivíduos se desenrolaram em linhas douradas trêmulas, a tensão estava atrapalhando o ar fresco. — Mestre Liane, esperarei aqui para o que precisar.
Algumas risadas vieram do seu lado. Provavelmente de outras empregadas ou moças nobres que se perguntavam “O que uma empregada como essa pode fazer?”, mas ela não se importou. Liane a olhou e acenou com a cabeça, retomando o passo para ficar ao lado de Silva.
— O que eles estão fazendo? — perguntou Liane, vendo vários pintando telas em branco.
— Acho que pintando os brasões das suas famílias… Olha — Silva apontou para uma menina que pintava uma coruja de asas abertas —, aquele é o brasão da família Calvenar. Uma luta de espadas seria mais interessante, não consigo entender o porquê os outros gostam de coisas tão chatas.
— Não se preocupe muito com o jeito bruto de Silva, senhorita Liane — comentou o príncipe, soltando uma curta risadinha. — Ela costuma preferir qualquer coisa que envolva violência do que coisas delicadas. É um traço de personalidade exótico.
— Como é?! Vossa Alteza, isso é um desafio?!
— Trate de entender da maneira que quiser.
Raiva subiu para a cabeça de Silva. Ela arrastou Liane para a tela em branco mais próxima e chamou alguém para entregá-la uma paleta, sentando-se num banquinho com o rosto de uma fera.
— Vossa Alteza engolirá as próprias palavras!
O príncipe deu de ombros, mas vê-la completamente inspirado foi realmente algo interessante. Quanto a Liane, seu rosto confuso e perdido era fofo, plantado próximo de Silva por não saber como reagir. Ranviel, interessado no comportamento daquela figura nova, ofereceu um assento e uma tela, algo muito inédito daquele bom garoto que muitas vezes parecia inacessível.
— Você não tem um brasão, certo, Liane? Por que não tenta desenhar um próprio? Quem sabe, no futuro, poderá construir a sua linhagem e nobreza, assim usando esse brasão.
— Vos-Vossa Alteza…
— Por favor, não precisa de vergonha.
Por livre e espontânea pressão, o garotinho aceitou. A ponta do pincel tocou a tela em branco, e de repente, foi como se algo tivesse se apossado do seu corpo. As linhas, que no primeiro toque foram trêmulas, se estabilizaram. Ele produziu a primeira imagem na sua mente, a forma que Er’Ika apossou quando se conheceram pela primeira vez. O cabelo longo e liso roxo, pontas avermelhadas, um rosto contendo um sorriso curto, olhos pretos como a noite.
Liane perdeu a noção do tempo, na verdade, perdeu a noção de si mesmo, como se sua mente tivesse saído da cabeça e voado para as alturas. Sequer percebeu que o intuito do desenho não era fazer um retrato, e sim um brasão, adicionando estranheza a imagem na tela. Só depois de terminar que retornou, arregalando os olhos em um susto.
— Ah, eu fiz errado! E agora? Isso deve custar uma fortuna… como vou lidar com isso?
Murmúrios vieram aos montes, o medo de acabar usando desnecessariamente uma coisa dos nobres pregou uma peça na sua consciência, imaginando o valor exorbitante daquilo. No entanto, demorou meio segundo para reparar como Silva, Renviel e outros perto estavam admirando a peça. Liane se voltou para o retrato. Era mesmo bonito, nem mesmo esperava que pudesse fazer algo assim.
O máximo que havia feito era trabalhar com pinturas no orfanato quando por sorte conseguia um restinho de tinta.
— Me-Me desculpe, Vossa Alteza. Fiz errado…
— O que? Liane, por favor, eu lhe pedi só um brasão, não uma obra de arte. Isso é muito impressionante. Há quanto tempo você desenha? Qual foi a referência? É sua primeira vez fazendo isso?
— É… hum… essa pessoa é um… amigo. Eu só pensei nele e isso saiu…
— Amigo? Ah, é um homem?
— É com-complicado, Vossa Alteza.
Renviel riu, seu interesse voou as alturas, enquanto o orgulho de Silva com sua melhor amiga atingiu um pico nunca antes visto. Todos também admiraram aquilo, parecia o nascimento de um talentoso artista, uma pena que onde habitava maravilhamento também morava a inveja.
Um pequeno empurrão tocou as costas de Liane, que esticou o pescoço para trás. Celine estava entre ele e uma outra mocinha, que estava com o pincel apontado na sua direção e a ponta manchada em cor marrom. Essa menina em especial estava extremamente descontente, pois acreditava que seu querido e amado príncipe dava atenção a alguém descartável.
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