Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 186: Luvas Mágicas
As visões foram gradualmente desaparecendo. A cada dia, aquilo que parecia um pesadelo se desvanecendo num mar de boas memórias, até finalmente não ocupar mais os seus sonhos. O alívio de Liane foi imensurável, mas não se comparou aos dos membros da igreja, especialmente Cristal e Vylon. Eles temeram dia e noite pelo fim do mundo, apenas para um garotinho sorridente chegar e dizer que parou de ver aquelas coisas, e que também não sentia mais a presença de Er’Ika.
No mesmo dia, Cristal reforçou sua devoção a deusa Lithia ao limite concebido pela humanidade, grata mais do que tudo pelo caos não ter recaído mais uma vez na cidade. Assim, os anos seguinte passaram sem problema — com o garoto obviamente recusando qualquer convite para outra festa nobre e se dedicando à sua vida pacata e corrida. Antes que percebesse, já havia completado quatorze anos.
Seu cabelo cresceu um pouquinho mais e agora era preso num rabo de cavalo, enquanto a visão aos poucos piorou conforme os anos. Ele acabou adquirindo uma maldição conhecida como “miopia”, ou assim os médicos da catedral disseram, obrigando-o a utilizar uma ferramenta mágica chamada “óculos” para ajustar os olhos. Quer dizer, o óculos não era de fato um item encantado, era só uma armação com um par de lentes feitas para consertar a sua visão, mas o trabalho feito era mais do que digno de mágico.
Equipado com um par de olhos funcionais e a mesma determinação de sempre, a rotina de Liane mostrou zero diferenças, revelando enfim seu potencial ao longo dos anos. Um relâmpago fugiu de suas mãos, atingindo um boneco de madeira e atravessando-o, um golpe mortífero para baratas, o inseto que mais temia. Abriu um sorriso, encarando o seu professor Ludio com cabelo faltando na cabeça — ele infelizmente recebeu um dos maiores males do tempo: calvície.
— O que achou, professor?
— Excepcional, Liane! Evoque mais daqueles feitiços que treinamos.
Labaredas se acenderam acima da luva cobrindo a mão de Liane, remodelando-se num formato de esfera. Não era grande, o tamanho equivalia a de uma maçã, mas ao encostar no boneco, efetivamente queimou seu corpo. Para retaliar isso, o garoto tirou uma garrafa d’água do cinto e abriu, usando magia para manipulá-la para fora e mover em um jato, apagando as chamas.
Ele também aproveitou um pouquinho do restante do resíduo no fundo da garrafa e os congelou, disparando pequenas agulhas contra o boneco arregaçado. Aquela pobre coisa já viu dias melhores, e definitivamente hoje não era um deles. O jovem largou um suspiro aliviado, só essa leva de feitiços sugou muito da energia, e era pouco se comparado ao que seu mestre era capaz.
O relâmpago foi o mais custoso, pois além de ser a magia que Liane mais dominava, também era a que mais colocava poder, potencializando seu dano. Ele enfim apoiou as mãos na cintura e estufou o peito, cheio de convicção.
— Então, eu passei?
— 1.000 pontos!
— Professor, esse tipo de pontuação não existe para demonstrações mágicas…
Uma risadinha saiu de Liane, que tratou de poupar a vida do boneco finalmente descartando-o apropriadamente. Eles retornaram para dentro da cabana de Ludio, contendo uma mesa repleta de roupas mágicas dos mais diferentes tipos, no entanto, hoje ele pretendia focar em somente uma: luvas.
— Professor, eu vou montar o presente para Silva, pode observar de perto para apontar imperfeições? — pediu o pupilo, olhando-o com um pequeno sorriso.
— É claro, eu nunca recusaria o pedido de um jovem apaixonado tão talentoso!
— Hã? Jovem apaixonado? — Os olhos dele piscaram, querendo entender o que havia atrás daquele comentário. — Mas é para o aniversário dela, além do mais, Silva irá para a Escola de Esgrima não muito depois. Eu não a verei por uns anos, prefiro retribuir a gentileza que recebi dela e da família Tanite antes de ser tarde demais.
— Liane, eu creio que você retribuiu o suficiente nos últimos anos. Salvar a caçula da família, entregar itens mágicos e um novo meio de economia para os Tanite… Sinceramente, não seria absurdo se Sion o aceitasse como genro.
— Acho que você tem lido muito minhas recomendações de livro para ter esses pensamentos, professor… — O jovem revirou os olhos e enfim se concentrou no que estava na mesa.
Um par de luvas feitas de linho fino, de cor perolada e com serpentes adornando a parte do antebraço, símbolo da casa Tanite. A costura era feita de uma linha dourada, reforçando as cores suaves e aumentando seu luxo, mas o verdadeiro valor naquilo viria com o que Liane pretendia fazer: encantá-las. Pontinhos brilhantes compostos de mana dançaram à sua frente, sendo rapidamente conectados uns com os outros para criar um efeito bastante útil.
Ludio estava perto fornecendo um suprimento infinito de energia, servindo de bateria, já que depois de conjurar feitiços, não era garantia que Liane ainda teria fôlego para produzir encantamentos. De qualquer modo, ainda tentou, exigindo um pouco mais da consciência para mantê-lo de pé. Sua concentração surreal era reforçada pelo simples fato de que não podia errar em nada.
Primeiro que foi muito caro para confeccionar o tecido, segundo que falhar uma vez seria igual um soco no meio do estômago. Estalos elétricos surgiram em meio a fabricação, enrolando-se a luva em aros conforme procedia em cada etapa. Então, o objeto repentinamente perdeu forças, deitando-se na mesa de pedra.
Um sorriso apareceu no rosto do jovem mago, que pegou o par de luvas e analisou com tremenda atenção. Nenhuma falha ou explosão arruinaria o presente. Liane tratou de guardá-las cuidadosamente dentro de uma caixa de madeira com veludo vermelho, fechando-a e colocando dentro da sua bolsa. Respirou profundamente, suor frio despencava do queixo e o que mais queria era cair no sono.
— Deu certo…
— Você não para de me surpreender mesmo fabricando esses itens mágicos… Inclusive, o que adicionou de efeitos naquilo? Percebi que o seu método foi diferente.
— Adicionei uma propriedade de reconstrução e de autolimpeza. A luva não se sujará e também vai se remendar ao absorver um pouco de mana, assim deve evitar danos… Também coloquei mais uma coisinha.
— O que exatamente?
— Hmmm… segredinho! — Ele colocou o dedo no lábio, fazendo sinal de silêncio. — Ninguém pode estragar a surpresa, ela vai descobrir por conta própria cedo ou tarde!
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