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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Os olhos de Liane se arregalaram, mas não de surpresa, e sim de susto. Ele não era nem um pouco idiota, imaginava que cedo ou tarde se separaria de Silva devido a diferença de status, tanto que esperou acontecer a qualquer momento. O mundo de plebeus que ele habitava era completamente à parte da pobreza e simplicidade promovida pela posição social, logo, não seria absurdo imaginar que uma hora Silva perderia o interesse nele e colocaria toda sua atenção aos afazeres da aristocracia.

    O momento, porém, nunca veio. A cabeça dura era presente na sua vida o máximo possível, usando qualquer desculpa para visitar Verdan e visitá-lo, seja para praticar esgrima como quando eram crianças ou para simplesmente aproveitar um bom tempo juntos. Ela ainda possuía problemas ao dormir à noite, então era inevitável forçar um contato com Liane para apaziguar o medo.

    Por essa razão que conversava com o marquês Sion agora. Ele entendia muito bem as consequências de um plebeu estar envolvido na vida pessoal de uma nobre, e como tanto poderiam haver represálias quanto tentativas mais agressivas de atacar indiretamente sua filha por meio desse amigo e da sua família. O desejo de afastá-los era para evitar esse perigo.

    — Me desculpe, mas espero que entenda. Silva lidará mais com política e ainda discutiremos sobre seu casamento com uma pessoa de outra casa, eu acharia melhor vocês cortarem contato para que… as coisas não fiquem complicadas.

    — Vossa Excelência, não precisa esconder suas intenções. Eu sei exatamente por qual razão veio a mim com esse pedido. A política nobre pode até não ser minha especialidade, mas tenho ideia o suficiente do porquê devíamos estar longe um do outro.

    — Entendo… — O marquês recompôs a postura, encarando o jovem à sua frente com pena. — Por favor, não acredite que este pedido é para cortar nossa conexão por completo. Eu ainda preciso retribuir o seu trabalho de ter salvo a vida da minha filha e fornecido tantos benefícios para minha família. Você é uma boa pessoa, Liane, e esse tipo de gente está em falta nos dias atuais… é só que…

    — Eu, minha irmã e Celine podemos morrer no processo, não é? — Melancolia logo preencheu seu sorriso falso. — Minha morte seria mais do que um simples homicídio. Libertaria Er’Ika e nós vimos o que acontece quando estou perto da morte.

    — Isso… é uma medida de segurança, para você e para ela. Queria ter falado isso antes, mas hoje, com ela fazendo quinze, creio ser a melhor opção. Ela irá para a Escola de Esgrima e vocês não se verão por anos, logo, pensei ser uma forma menos dolorosa de despedida. Depois do aniversário, não chegue mais perto dela e não troque cartas, por favor.

    Liane acenou com a cabeça. Sion fez tudo ao seu alcance para tornar a separação dos dois o mais suave possível, e naquele momento o aviso era para garantir que uma barreira seria firmada. Felizmente, o jovem rapaz concordou, o que fez o marquês se sentir ainda pior devida as condições especiais de Liane.

    — Bem, senhor Marquês, acho melhor voltarmos. Se notarem a falta da nossa presença, podem levantar suspeitas.

    — Tem razão, vamos logo…

    Sion foi logo na frente, revelando um semblante bastante abatido. Não era nem um pouco fácil pedir para uma pessoa importante na vida de sua filha simplesmente desaparecer, mas era necessário se desejasse o sucesso de Silva e garantir a vida de milhares de pessoas. O brilho da lua cortou as nuvens e atingiu o rosto de Liane, seus olhos se moveram em direção a superfície destruída do astro, sem revelar nenhum sentimento conflitante.

    Respirou fundo, olhando para as luvas nas mãos. Aquele era um presente dado por Silva, guardado até os dias de hoje e reajustado para manter a lembrança. Ele viu muito pouco motivo para tirá-lo, inclusive as encantou quando teve plena certeza de suas habilidades e agora provavelmente seriam a última lembrança da amizade entre os dois. Seria maravilhoso guardá-las consigo, sim.

    — Já pode sair, eu sei que você ouviu a gente.

    Os arbustos se mexeram abruptamente, como se tivessem sido possuídos. Liane riu, logo encontrando uma coloração roxa em meio aos galhos e passando para o outro lado do muro esverdeado, deparando-se com uma mocinha de cabelo prateado escondida. Ela era para ter corado quando foi descoberta, mas ao invés disso, um olhar distante e uma quietude a envolvendo impediu qualquer vergonha de aparecer.

    O jovem tentava disfarçar a tristeza por meio de um sorriso, mas o uso era pouco efetivo. Ele tocou na mão de Silva, chamando sua atenção.

    — Ei, como você ouviu tudo, acho que não preciso comentar mais nada, né? — Então, puxou-a para fora das sombras, colocando-os debaixo do luar. — Seu pai disse especificamente “Depois do aniversário”… estamos ainda no meio dele.

    Um lampejo de luz iluminou as íris purpuras de Silva. Só por aquele dia, só naquele aniversário, só mais uma vez. Os pensamentos aceleraram ao limite concebível pelos seres humanos, inundando-a com um único sentimento doce como mel: felicidade. A nobre entrelaçou os dedos com os de sua melhor amiga, hipnotizada pelo seu cabelo preto igual penas de corvo voar ao vento.

    Não entendia como essa pessoa, que era menor e ainda mais medrosa ela, poderia ser ao mesmo tempo tão charmosa. Seu coração palpitou, remendado por cordas finas pressionando por todos os lados. Era a primeira vez de Silva com uma euforia de sensações desconhecidas, com uma em especial entre essas, amor.

    — Liane…

    A ferocidade afiada por trás das pupilas se dissipou, dando lugar a meiguice e um tom fraco de voz. O jovem não hesitou em puxá-la de volta ao salão, onde música preencheu o ambiente. Vylon fez par com Zana, enquanto Cristal dançava desajeitadamente ao lado de sua irmã Grey, até mesmo o marquês aproveitou um momento extremamente sentimental com sua mulher Lizabeta. Seria estranho se a aniversariante também não estivesse ali no meio.

    Liane ofereceu sua outra mão, assim rumaram a pista de dança.

    — Desculpe se eu pisar no seu pé, não sou bom em dançar… — desculpou-se o jovem.

    — É só eu pisar no seu pé também na mesma medida. Hehehe.

    Silva tocou a cintura de sua melhor amiga e apertou a outra no ombro, esboçando um sorriso cheio de maldade mascarada. Aproveitou aquele momento como se fosse o último, contando os segundos rumo ao amanhecer, contando o tempo até que o sol apareceria e retirasse a magia do mundo colorido que Liane criou para ela.


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