Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 193: Sem Chamar Atenção
O vislumbre durou uma questão de segundos, mas não para Liane. Seu coração doía.
“Por que ela está aqui? Quem é ela? Não, não, não!”
Ele jogou água no rosto para controlar as emoções. Nada adiantou, nenhuma ação acalmou sua mente processando como diabos veio a encontrar aquela pessoa. Era mais do que claro como as duas se pareciam dentro da sua visão, a pele, o rosto, os olhos, o cabelo, e nada disso era sequer coincidência. A palpitação estava tão forte que era possível ouvir, agarrando o peito igual um gancho rasgando a carne.
Er’Ika lhe mostrou a face dessa garota. A visão permaneceu clara por todos esses anos, mesmo que não sonhasse mais, e por isso temia um dia se encontrar com aquelas coisas novamente. Depois do que pareceu uma eternidade, ele lavou as bochechas mais uma vez, encarando-se no espelho à frente. Sua aparência estava boa, mas o pesar nos olhos indicava o oposto.
Levou somente um segundo para suas energias desaparecerem. Não foi a magia, muito menos a pressão de tantos olhares, mas sim a aparição dessa pessoa. Depois de uma eternidade, Liane teve coragem de sair do banheiro com o rosto e mãos enxutas, ainda abalado, o que sugou seus ânimos. Grey o esperava do lado de fora, de braços cruzados contra a parede e bagagem deitada ao seu lado. Ele segurava entre os dedos uma pedra hexagonal.
— Você… comunicou a santa Cristal? — perguntou o garoto, cabisbaixo.
— Sim. É para termos a informação sobre quem é essa pessoa o mais rápido possível. Podemos assim matar o mistério por trás das suas visões, será importante para quaisquer problemas que a aparição dessa moça lhe cause. A santa me avisou que receptáculos, quando entram em contato com coisas de suas visões, podem desencadear em novas memórias ou visões.
— Entendo. Seria melhor evitar interação total pelo tempo que for, então. Grey, repasse para ela que me informe o quanto antes da identidade daquela pessoa.
O paladino acenou positivamente com a cabeça, assim os dois seguiram para os dormitórios. Era um prédio separado da Academia, meio distante para garantir algum nível de privacidade. Também não havia divisão por sexo. Felizmente, cada quarto era individual, contendo somente uma cama com zero chances de duas pessoas compartilhassem o mesmo espaço, exceto em casos excepcionais, como o de Liane, em que uma segunda foi provida para que Grey pudesse ficar de guarda e descansar.
Ele passou pela maioria das pessoas sem se preocupar muito, entrando no cômodo reservado a ele. Um perfume de lavanda estava no ar, servindo para dar um conforto aos recém-chegados, mas isso só queimou o nariz sensível dele enquanto colocava os pés para dentro. Rapidamente pegou sua maleta das mãos do paladino e a largou em cima da cama, destravando-a para arrumar o conteúdo.
Havia tanto roupas quanto uma série de itens sem sentido, como um cacto. De qualquer modo, Liane esperava deixar o lugar todo à sua cara, posicionando a plantinha perto da janela para um banho de sol. Em seguida, foi a vez dos artefatos para criação de objetos mágicos. Não era usado qualquer coisa para o manejo desses itens especiais, precisando de uma prancha de pedra com gravações mágicas ao longo dela para facilitar a circulação de mana.
Obviamente, Liane colocou a coisa que mais pesava — essa prancha — em cima da primeira mesa vista. O resto foi um respiro de alívio comparado a isso. Quanto ao paladino, ele se sentou na cama. Era macia, mas menor que seu corpo, seus pés ficavam para fora quando se deitava.
— Hahaha, você tá parecendo um gigante numa cama de criança! — brincou o garoto, tendo terminado de ajeitar o guarda-roupa.
— Não tem graça. É culpa deles fazerem uma cama tão pequena pra dormir…
Outra risadinha de Liane pairou no ambiente. A última coisa a se ver era o uniforme. Havia um no cabide dentro do armário, destacado por tiras azuladas na gravata e cor perolada no tecido. Liane trocou de roupas e vestiu o uniforme, contendo uma blusa branca por baixo e um manto cinza sobre os ombros que descia até os joelhos cheio de botões que prontamente fechou. No ombro direito, havia um olho aberto como brasão da Academia, enquanto os pés eram cobertos por um sapato preto social.
A única coisa a mais para adornar a aparência de Liane eram suas luvas claras e a corrente dourada de um monóculo aparecendo suavemente sobre um bolso no peito. Havia um espelho enorme no quarto, e ele adorou se ver, dando uma giradinha para contemplar tudinho. No início, entrar na Academia nunca foi um sonho, transformando-se em um após muito praticar magia com seu professor.
O mero pensamento que suas habilidades e que teria acesso a um enorme arsenal de conteúdo para itens mágicos fez sua cabeça pipocar de animação, e havia se tornado uma realidade próxima. Sinos ecoaram ao longe, sinal para todos se reunirem no saguão principal, logo as pernas curtinhas do garoto o carregaram até lá. Não havia tempo a perder, mesmo que aquela garota ainda aparecesse ali, teria a chance de aproveitar os benefícios dentro da livraria plenamente.
O saguão estava um pouco escuro e cheio de gente. A sensação de aperto também incomodava, especialmente com pessoas quase coladas umas as outras. Finalmente, uma fonte de luz se destinou a plataforma de madeira no extremo oposto da entrada, com a figura do diretor Trion detrás de um palanque, enquanto três estudantes estavam parados atrás de si, os mesmos quem ganharam destaque na apresentação.
— Bom, vejo que já se acostumaram a Academia levando em conta a animação de todos… — começou o diretor, sua voz reverberava pelo salão silencioso por meio de uma pedra redonda em suas mãos. — Ah, a juventude, eu daria muito para voltar a esse tempo. Serei breve, pois conheço os jovens desde que eu mesmo fui um: quero primeiro parabenizar quem está aqui, que vocês aprendam muito nas nossas instalações e mostrem ao mundo a maravilha da magia. Além disso, trouxe três pessoas especiais para darem um discurso motivador a todos. Com licença…
Ele repassou a pedra para o garoto de cabelo verde sorridente.
— Fala aí, meninas! Aos homens, podem ir se…!
— Obrigado pelo seu discurso. — Trion tirou o dispositivo do garoto antes que fosse tarde e tentou repassá-lo ao jovem Delphiane, mas este recusou com a cabeça. — Ah, senhorita Solaris, por favor.
A jovem pegou a pedra. Por algum motivo, vê-la lhe causava uma séria apreensão, como se o mundo ao redor fosse se desmantelar a qualquer momento, derretido por um calor infinito similar às estrelas.
Liane engoliu seco.
— Eu vim declarar guerra a todos.
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