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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    A plateia explodiu em murmúrios. Pela primeira vez dentro da Academia, Solaris mostrou alguma expressão diferente. Primeiro foram os olhos arregalados de surpresa, de encarar alguém menor que ela e aparentemente mais fraco lhe desafiando com o metal frio das lâminas, uma pessoa quem considerava um covarde de essência incapaz de enfrentá-la num combate digno.

    A segunda reação foi um sorriso. Um sorriso curto, cheio de satisfação, contendo uma animação pulsante. Ela queria isso desde o princípio, atiçar a garra de alguém, de uma pessoa que poderia jurá-la como inimiga e caçá-la aos confins do mundo. Provavelmente o efeito se aplicou à pessoa do outro lado da arena, cujo semblante irritado parecia a qualquer momento amaldiçoá-la.

    Liane tirou o óculos, dobrando-o e entregando para Grey, que também arrastou Imo para fora da arena. Em nenhum momento o paladino mostrou qualquer sinal de apreensão, obedecendo sem reclamar as ordens do protegido.

    Esse comportamento incomum chamou atenção de Solaris. Desde o contato com a santa, ela já havia reconhecido que Liane era uma existência exótica, uma pessoa a ser cuidada e que recebia bastante atenção da igreja, então por que o homem encarregado de protegê-lo não revelaria nenhum sinal de medo? Ele morreria se fosse empalado ou recebesse um corte significativo pela espada.

    A garota também não era ignorante no manejo de armas. Aquela espada reta poderia ser diferente do tipo que normalmente usava, porém serviria ao propósito. Além disso, o uso de uma adaga parecia um desrespeito, além de mais curta, teria mais dificuldade de segurar qualquer golpe usado.

    Por esse motivo, manteve a guarda-alta. O comportamento era esquisito demais para se absorver em arrogância.

    — Ah, é verdade, quase ia esquecendo — disse Liane, olhando os próprios pés.

    Tirou os sapatos e as meias, colocando-os de lado. Solaris acreditou que seria atacada pelo arremesso de sapatos, o que nunca aconteceu, causando uma torrente confusa na sua cabeça.

    “O que ele está pensando? Seria provocar para que eu ataque primeiro? Ou está me subestimando?”

    As dúvidas pairaram na sua cabeça sem lhe dar trégua. Nada fazia sentido. Grey retornou após colocar Imo num lugar seguro, no caso, deixou-o jogado no meio do gramado. Ele seria o júri, e diferente do garoto de antes, não fugiria e nem permitiria nenhum tipo de morte.

    Estendendo a mão para o alto, gritou:

    — Comecem!

    Sua palma desceu, mas antes mesmo de abaixar por completo, o corpo de Liane estava em movimento. Suor desceu pelas costas de Solaris, ela viu a silhueta do garoto tremer e seus olhos vermelhos brilharem com intensidade, apenas para que a ponta da adaga raspasse contra a pele do rosto. Ela só reagiu a tempo por não abaixar a guarda, dando um salto para trás.

    Um corte apareceu abaixo do olho direito, reto e feito com uma faca afiada. Sangue pingou em direção ao chão, e diante dela, estava a figura daquela mesma pessoa, olhando-a de cima com um rosto indiferente, igual ao que sempre usava com seus outros oponentes e com quem derrotava sem dificuldade. Era o mesmo tipo de reação, o de não se surpreender com o menor esforço.

    Aquela ousadia, aquele jeito de enfrentar o inimigo sem medo, indo direto para um golpe mortal. Esse conjunto de qualidades fez um sorriso florescer em Solaris, enchendo o semblante antes imutável para algo mais louco, quase feral. Ela elevou a espada para cima e tentou partir seu inimigo ao meio, mas Liane recuou para desviar, abrindo mais a distância conforme uma chuva de ataques vinha em sua direção. No meio deles, encontrou uma brecha, manifestando um pouco de corrente elétrica nas mãos.

    Solaris reparou na mudança de atitude e também a estática, por isso parou e decidiu também recuar, esperando um tipo de disparo extremamente rápido como o demonstrado pela apresentação. O que ela não acreditava, porém, foi o oponente se aproximar com um avanço rápido, tocando a superfície da espada com a mão aberta. A descarga foi imediata, eletricidade correu da espada para seu braço, em seguida tomando o restante do corpo e eletrocutando seu corpo.

    Liane tomou distância novamente, tanto para não ser pego no efeito do choque quanto para saber como ela pretendia reagir. Uma paralisia tomou conta dela, mas, simultaneamente, Solaris usou a mão livre e evocou uma bola de fogo que explodiu seus arredores. A previsão do garoto estava certa, já tendo se separado antes de ser atingido pelas chamas.

    Fumaça se estendeu pelos arredores, bloqueando a vista. Solaris estava sendo pressionada sem fim, seu plano era ganhar vantagem com o alcance de suas bolas de fogo e inevitavelmente vencer por meio da pressão. O que ela não esperava era como o garoto fechou um espaço tão grande num piscar de olhos, sem que sequer percebesse direito. Isso quase lhe custou a batalha… não, a vida.

    Agora, presa e sem ver nada além do curto espaço ao redor, ela queria encontrar um meio de vencer. No entanto, quando a fumaça dispersou, Liane estava em nenhum lugar. Ela imaginou que estivesse de cima, talvez carregando um relâmpago para atingir uma vasta área, mas a verdade era muito mais simples do que imaginou.

    Uma lâmina roçou seu pescoço, pressionando levemente.

    — Eu perdi…

    Solaris abaixou a espada. Era óbvio que o oponente aproveitaria o ponto cego para dar um golpe fatal e impedí-la de usar qualquer coisa. A arma só havia parado no caminho por uma questão de não matá-la. Grey nem mesmo se mexeu, continuando de braços cruzados. A vitória veio sem gritos cerimoniais ou qualquer euforia, foi apenas um serviço rápido.

    O paladino já esperava esse resultado. O motivo de não impedir Liane era que ele mesmo havia analisado o estilo de combate de Solaris nos últimos dias, junto dos demais alunos, e concluiu uma coisa: ninguém conseguiria vencer de Liane numa situação normal. Anos atrás, Er’Ika o ensinou a como bombear mana para partes diferentes do organismo como forma de aprimorar seus atributos físicos.

    Ele não perdeu por completo essa habilidade com o selamento da entidade, e dado um período de anos, acabou cedo ou tarde dominando melhor aquilo, virando essa espécie de monstro.

    Grey até mesmo enfrentou o garoto em algumas circunstâncias num spar amigável, mas sabia que na hora que abaixasse a guarda, ele atacaria um ponto cego e garantiria a vitória. Em outras palavras, o resultado dessa batalha estava destinado a acabar assim.

    Liane respirou fundo, girando a faca e guardando de volta na bainha dentro do bolso.

    — Como eu venci, quero te pedir um favor, já que apostamos tudo.

    Solaris o encarou cheia de expectativa nos olhos, pela primeira vez emoções afloravam seu rosto duro como gelo, derretendo qualquer sinal de indiferença. Liane encheu os pulmões de ar, finalmente permitindo todo o incômodo sair de uma vez.

    — Pelo amor de Lithia, seja só uma garota normal e deixe os outros em paz! Ninguém aguenta mais você indo atrás dos outros chamando de covarde e os desafiando! Sabe quantas vezes eu quase destruí o meu quarto inteiro porque você estava duelando e explodindo tudo?! Ninguém aguenta mais, só pare com essa idiotice de honra, covardia e tudo e deixe os outros estudarem como gente normal!

    As palavras desceram como uma série de martelos. Solaris imaginou seriamente que o pedido era algo grandioso, que poderia representar talvez o início de uma amizade com alguém mais forte que ela, apenas para receber uma série de reclamações sobre o quão insuportável seu comportamento era.

    Assim, Liane largou um profundo suspiro e deu um passo em frente, apenas para o seu braço ser puxado de volta.

    — Es-Espere, me escute, eu tenho algo a dizer!

    — O que é agora?!

    — Como… como apostamos tudo, e você disse que seria meu escravo se vencesse… então… eu vou virar a sua escrava.

    — Hã?

    Um silêncio extremamente vergonhoso ecoou pelo pátio da academia.


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