Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 199: Desentendimento Absurdo
Controlar os pensamentos diante de uma coisa incompreensível é uma tarefa titânica, pois a mente começa a pregar peças em si mesma como forma de trazer a razão de volta. É um reflexo comum, similar a estar num momento perigoso e ser bombardeado pela adrenalina.
Naquele momento, porém, Liane não estava imerso num tipo de intensidade e nem mesmo em algo difícil de raciocinar, era só que para ele especificamente nada fazia sentido. Só assim percebeu o quão absurdo foram suas próprias palavras, a de se “tornar escravo de outra pessoa”. Aquilo era para ser algo de efeito, para atrair a atenção de sua oponente, mas pelo visto sua má interpretação trouxe um resultado inesperado.
O garoto olhou de um lado para o outro, avistando até mesmo Grey, cuja expressão continuava em choque, não pelo resultado da luta, mas por essa declaração. Ele só queria saber porque todos encaravam-no com uma certa vergonha, mas a resposta estava clara como o dia: aquele tipo de resposta vinda de Solaris era extrema demais para aceitar.
Liane nem sabia o que deveria sentir, nojo, alívio, raiva, vergonha? Talvez uma mistura de todas elas num caldeirão de sentimentos desconexos?
“Que tipo cenário é esse que só acontece em histórias?!” Ele continuou procurando alguma ajuda, sem sucesso, e então decidiu responder: — Eh, sabe, eu não… calma, primeiro, por que você falou isso? Isso é pelo menos permitido em Kirstein? Ahhhh!
Outra vez, sua cabeça não soube como agir direito, então fugir era sua melhor opção. Ele correu para longe, descalço por cima do gramado, querendo esconder o rosto completamente distorcido por vergonha.
— Liane! Ah, droga… — Grey tentou chamá-lo, no entanto, antes de sair, pegou seus sapatos no meio da arena e decidiu iniciar a perseguição.
Solaris ficou ali, ajoelhada no meio da arena quadrada, tão desentendida quanto todos os outros. Diferente deles, no entanto, sua boca permaneceu fechada, nenhuma reclamação, estranhamento, nada. Ela só continuou a encarar a silhueta do menino se afastando mais e mais na distância, até desaparecer de vista entre prédios e outros alunos.
A multidão se dispersou, carregando os rumores da derrota de Solaris e sua tentativa falha de submissão. Era um assunto humilhante, porém ela nunca veio a se atentar demais nas palavras dos outros, seus olhos se travaram em uma só pessoa e não conseguia desgrudar, independente de quanto tentasse. Quando retornou ao quarto durante a noite, o sono lhe escapava.
Ela encarou o teto pelo que pareceu uma eternidade. Estava frio, diferente dos outros dias que eram cheios de um calor infinito. Por que sua mente ainda revivia a mesma cena, como se estivesse acorrentada na memória? Tocou a pele abaixo do olho direito. Ali havia um curativo, o corte não foi profundo, então logo sumiria e sua pele retornaria ao normal, no máximo com uma pequena marca no lugar.
Sabia haver algo de errado, pois o oponente poderia ter desferido um golpe muito mais brutal se tivesse vontade, só não aconteceu porque ele não queria. Pior ainda foi reconhecer como suas teorias estavam corretas, havia algo de muito errado desde o começo, seu destino era perder no final das contas. Isso que ele nem mesmo havia usado seu feitiço mais forte, ou sequer demonstrou outros truques além daquela aumento de velocidade absurda.
Pela primeira vez em muito tempo, os olhos de Solaris ganharam uma chama. Era distante, seu calor fraco oscilava tanto que sumiria a qualquer instante, mas insistia em queimar.
O sol revelou seu grande esplendor no amanhecer. Solaris estava de pé antes mesmo dele surgir no horizonte, meditando em seu quarto e conjurando uma cadência de bolas de fogo, tentando mantê-las acessas pelo máximo de tempo possível. Aquilo era um método de treino repassado por seu pai antes de sair de Coraci, que vinha usando desde então para aprimorar seu controle mágico.
Mesmo tendo um grande talento para esse elemento, ela pecava em algumas áreas, como o manejo. Coisas como explodir, disparar ou até manifestar o calor eram fáceis, mas quando precisava de medições específicas de força ou até uma manipulação precisa, a tarefa se tornava quase impossível.
“Acho que foi por isso que ele protegeu o meu oponente no final. Ele sabia que ia machucá-lo gravemente…”
Solaris não se importava com os danos causados aos inimigos, a maioria era hospitalizado e ela somente cruzaria os braços sem se importar. Entendeu bem o motivo da intervenção, era um meio de controlar qualquer tipo de confusão. Talvez até para não manchar a sua reputação já arruinada, o que só piorava sua cabeça querendo achar uma lógica por trás dessas ações.
As bolas de fogo apagaram em pouquíssimo tempo. A princesa de Coraci estava perdendo a concentração por pensar demais nele, tentando analisar seu funcionamento e porque agia daquela forma. Ela entendeu o aviso da santa sobre se manter longe do garoto, mas por então essa pessoa se colocaria no centro das atenções para salvar outra pessoa irrelevante? Ele deveria preferir o anonimato, mais que tudo.
Água acariciou seu corpo durante o banho, mas o pensamento ainda orbitava a mesma pessoa. Os pingos escorrendo pelos braços fora da banheira sequer pareciam existir entre esses pensamentos. Eis que, uma epifania: bastava perguntar!
Agraciada pelos espíritos da sabedoria, Solaris apressou qualquer dever durante a manhã para sair do quarto primeiro que todos os outros estudantes, mas ao invés de bater de porta em porta, ela decidiu escalar as paredes e procurar de janela em janela do quarto de Liane. Demorou um pouquinho, porque demandava certo tempo traçar uma rota entre os tijolos sem cair.
O acompanhante e o garoto estavam ainda dormindo. Solaris, tendo conhecimento mínimo nas normas sociais, sabia que invadir o espaço do outro causaria extremo desconforto, então optou por bater no vidro da janela. Bateu uma, duas e três vezes, o que acabou acordando Liane.
O garoto coçou os olhos e colocou os óculos no rosto, seu cabelo bagunçado ganhou um pequeno fio de cabelo rebelde que era sempre saltado para o alto. Foi aí que ele viu alguém na janela. À primeira vista, não reagiu, mas como a silhueta estava colada na sua janela, só houve uma única reação decente: gritar.
— AAAAHHHHHHH!
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