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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    A igreja de Lithia era um movimento solidário que ganhou muitos admiradores ao longo de Kirstein nos últimos séculos, transformando-se na sua forma moderna após muita insistência de antigas figuras religiosas importantes dentro desse movimento. Ele surgiu em tempos de guerra, quando inúmeros órfãos e viúvas apareceram devido ao número de mortes durante os embates, e teve como principal objetivo acolher aqueles que perderam as pessoas mais importantes de suas vidas e agora se encontravam em péssimas condições.

    Não à toa Liane acabou ganhando favoritismo com Cristal, Vylon e Grey. Uma das mais importantes filosofias envolvia a dor de estar sozinho, de ser abandonado ou perder quem ama e estar fadado a no final morrer devido à uma série de fenômenos fora do controle. Devido a condição de órfão do garoto, assim como o fato da única figura materna ser sua irmã, quem acabou sofrendo um terrível acidente, ele foi involuntariamente acolhido pelo bispo e santa.

    Tanto que, momentos antes do Tribunal Divino, quando Cristal descobriu sobre sua identidade e passado, ela passou por um arrependimento muito grande de fazê-lo sofrer durante o ritual de selamento e mais tarde ter colocado-o uma posição perigosa no Tribunal. Com esses dois acontecimentos, ela decidiu realizar um voto silencioso para protegê-lo, tanto para se redimir do que considerava serem seus pecados quanto para achar o perdão na própria alma.

    Então, quando o pedido de seu irmão chegou, Cristal precisou repensar nas suas escolhas. Recebeu também um relatório do que aconteceu, e de como Liane lidou com o problema com a princesa de Coraci numa disputa. Ela não gostava do fato de chamarem atenção, porém, imaginou ser inevitável como cedo ou tarde ambos iriam se colidir novamente e causar movimento nas águas ao redor.

    “Essa criança tem um dom de se meter em situações exóticas…”

    De qualquer forma, a pedido, ela queimou a carta, que virou cinzas para a lareira comer. Independente do quanto encarasse as chamas dançando, queria entender seriamente a razão detrás do pedido. Ela acatou porque acreditava que a situação pararia de se repetir, pois uma vez que Solaris foi colocada em cheque, ela teria pouquíssimo motivo para enfrentar outros veteranos e também acabaria cedo ou tarde tentando chegar perto de Liane.

    Assim era o povo de Coraci. Como eles viviam no deserto, a batalha por mantimentos contra bandidos, outras tribos ou até mesmo os monstros no território era um esforço constante. Os instintos deles foram afiados para a guerra, a maioria de seus conflitos se resolvia por meio da força bruta e não diplomacia. Como o garoto a derrotou, então era plenamente cabível que os dois tivessem pelo menos uma conexão suficiente para Liane exigir uma parada na loucura de combates sucessivos.

    Cristal soltou um suspiro. O céu do lado de fora parecia muito lindo aos seus olhos, com a deusa lhes dando mais um respirar de vida para que amassem o mundo. O sino da catedral de Poar tocou, as pessoas lentamente entraram no templo para o culto a Lithia, sendo vistos a partir do cômodo da santa.

    — Hoje tenho tanto a fazer… Me pergunto se meu irmão está indo bem.


    Grey não estava indo nada bem. Para sumarizar, desde que Silva se mudou para a Escola de Esgrima Nello, Liane ainda precisava de um parceiro de treino para manter o ritmo nas suas habilidades com armas e também num combate real. Caso o paladino fosse incapacitado, ou pior, morresse, o próprio garoto seria a última barreira para impedir a libertação de Er’Ika, por isso manter o treino era tão importante.

    Eles aproveitavam o começo da noite para praticarem, pois era o período em que os alunos saiam da Academia rumo a cidade de Nemetros por inúmeros motivos. Alguns passavam o tempo com a família, outros procuravam um meio de se afastar do âmbito para ter um respiro e havia até quem procurava prazeres e alívios indisponíveis nas paredes do dormitório.

    De qualquer modo, esta era a melhor oportunidade para praticar, seja magia ou esgrima… quando eram duas pessoas, claro. Agora haviam quatro, sendo inclusos Solaris e Imo.

    Grey olhava para os dois com um desdém disfarçado, querendo realmente se perdoar por estar tão irritado com a presença daqueles dois. Solaris acabou se metendo depois de seguir Liane pela Academia inteira porque eram “amigos”, e como a princesa nunca teve alguém que se equiparasse a isso — o que era uma coisa muito triste, inclusive. —, ela acabou se apegando a Liane mais do que o normal.

    Já Imo, o caçula da casa Calvinar era mais tolerável. Como sua honra foi protegida por meio de Liane, ele queria de alguma forma retribuir o favor, ao ponto de entregar presentes na porta de seu quarto para tentar ganhar algum afeto. Difícil dizer se funcionou, então depois de descobrir a respeito dos treinamentos secretos noturnos, ele imediatamente quis entrar no clube.

    Tanto o paladino quando seu protegido tinham expressões complicadas. O único momento de solidão era aquele, então poderiam tentar diversas coisas diferentes, mas com a presença daqueles outros dois, a flexibilidade ia embora.

    Liane estava sentado meditando. Traços de energia flutuavam ao seu redor, indistinguível se era mana ou poder divino, mas independente do que fosse, manifestava-se com facilidade e fazia seu cabelo tremer. Já os outros dois, ambos praticavam as magias ao ar livre contra alvos. Como os feitiços de fogo de Solaris seriam muito chamativos no meio da noite, ela foi encarregada de praticar outra coisa que Liane lhe ensinou.

    Era o método de aprimoramento corporal, que a garota descobriu por experiência ser muito doloroso, mas igualmente efetivo. Quando brandia a espada ou tentava correr uma curta distância, seus músculos queimavam como se a carne fosse rasgada, enquanto o resultado era muito avassalador. Era possível cortar uma distância numa velocidade consideravelmente maior, ao mesmo tempo que os golpes ou movimentos de mão ganhavam um impulso enorme.

    Seus olhos admirados às vezes recaiam nas costas de Liane, que ainda meditava profundamente.

    — Concentre-se — falou Grey, desarmando-a com uma pancada no pulso da garota, que soltou a espada. — Não superestime essa habilidade. Ela também é usada pelos cavaleiros de Kirstein e provavelmente os guerreiros de Coraci devem possuir um método similar. Se confiar demais na diferença de força, perderá por uma questão de experiência.

    O ensinamento entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Ela ainda olhava atentamente para as costas de Liane. Grey suspirou, olhando na mesma direção, e imediatamente seus olhos arregalaram. O ar ao seu redor tremia junto do corpo. Ele correu na direção do garoto e tocou seus ombros, que estavam gelados igual um cadáver.


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