Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 202: Instruções
Sombras rondavam no interior da alma. O convite para a reflexão sobre o que habitava nas profundezas do espírito trazia tanto a paz quanto a loucura, duas faces de uma mesma moeda que dependia puramente da habilidade de alguém para se guiar no seu próprio âmago. O interior era uma porta para o passado que desejava esquecer, para as imagens gravadas na memória que trouxeram tanta dor, e simultaneamente era o meio de largar o arrependimento, de encontrar a libertação.
Para Liane, a meditação vinha se tornando um meio de apaziguar o medo, de suprimir a falta de Er’Ika na sua mente constantemente vazia. Após sete anos, ele nunca esqueceu da entidade, tendo visto sua silhueta macabra nos sonhos e lembrando da sua personalidade exótica, mostrando um contraste entre humanidade e monstruosidade. O tempo que passou sem ele pareceu uma brisa, sem nada para se recordar, com memórias felizes que mais pareciam um sonho que realidade.
Os tempos com sua irmã, com Celine, com Silva, com Ludio, com Vylon, com Grey e todos os outros quem estenderam a mão para ajudá-lo durante os longos períodos sem dormir ao longo da noite, todas essas lembranças não tinham um toque de realidade, como se tivessem sido arquitetadas por uma mente maligna e plantada na consciência para enganá-lo.
Ele sabia o quão podre o mundo real era. Seu corpo carregava cicatrizes nos pés, nas costas e nas mãos. Essas marcas eram refletidas no espelho quando estava despido, revelando a sua fragilidade rente a realidade. Foi por isso que seu esforço durante anos serviu para torná-lo mais apto, melhor e mais inteligente. Não havia reclamações para estudar, para brandir uma espada de madeira, para lançar magias até seus dedos queimarem.
Tudo tinha como objetivo de um dia se reencontrarem.
Seus olhos foram preenchidos pelos corredores da Academia. A visão acompanhou um caminho ao longo deles, indo para a biblioteca, subindo até um livro em específico, depois saindo pela janela e correndo noite à dentro. As árvores próximas apareceram sendo vistas de cima, como se estivesse voando num pássaro, e chegaram a um conjunto de ruínas não muito distante da cidade.
Ele “pousou” na entrada dessas ruínas, que primeiramente se revelaram intactas pelo tempo. Pilares se erguiam na passagem da frente, um mais alto que o outro e tentando alcançar os céus, apenas para que o caminho levasse para as profundezas da terra. Dali, corredores de pedra se alongavam por metros sem fim, imersos numa escuridão profunda, parando em um salão largo com um bloco de pedra no meio.
De repente, o mundo ao redor acelerou, o bloco de pedra perdeu lascas conforme os segundos passaram, e o “corpo” de Liane foi puxado para entrada, apenas para mostrar os pilares caindo com rachaduras na grama. Durou pouquíssimo tempo, a imagem se desvaneceu no fim.
O garoto respirou fundo, finalmente conseguindo abrir os olhos. Diante de si, Grey, Imo e Solaris encaravam-no cheios de preocupação. Seu rosto deixava cair gotas de suor frio, enquanto as mãos não paravam de tremer. Aquilo foi uma visão, mas diferente daquela que viu o passado, esta lhe guiou por um caminho específico e conhecia com uma maestria surreal os caminhos dentro da academia.
Foi como se, seja lá o que deu essa visão, já soubesse em detalhes o que devia ser feito. Somente Er’Ika seria tão metódico assim, mas como diabos podia saber tanto enquanto estava selado? As pulsações no peito aumentaram em intensidade, seus olhos estavam mostrando dificuldade em se focarem nos três à frente.
— Eu preciso… ir para o dormitório…
Ele tentou se levantar, mas suas pernas fracas o derrubaram. Grey foi rápido e o segurou antes que isso acontecesse, podendo pegá-lo nos braços.
— Não se esforce muito, você deve estar bem cansado.
Liane acabou por se manter quieto. O paladino olhou por cima do ombro, encarando os outros dois que pareciam compartilhar da mesma emoção. Era bom que ambos mostrassem esse lado empático, mas seria perigoso caso se aproximassem demais.
— Vou levá-lo de volta. Vocês dois, podem ir embora e descansarem. Não se preocupem, cuidarei bem de Liane.
Grey não esperou uma resposta, apenas seguiu carregando o garoto no colo rumo aos dormitórios.
Solaris ficou paralisada naquele lugar, tentando compreender direito o que houve. Ela sentiu que havia alguma coisa errada, mas não conseguia apontar o que. Era um instinto esquisito, que despertava quando olhava para o garoto com muita atenção. Seus lábios hesitaram, pretendia chamar o paladino e pedir para acompanhar, uma pena que as forças sumiram da garganta antes de falar qualquer coisa.
Ela só ficou ali, olhando os dois desaparecerem na noite.
— Liane tem uma saúde frágil…? — murmurou Imo, de braços cruzados. — Quer dizer, ela é muito forte, a gente já viu isso, então como pode acabar ficando cansada assim fácil?
— Liane é uma garota? — questionou Solaris, prestando atenção nos pronomes usados.
Imo imediatamente teve um frio na espinha quando foi questionado pela moça. Os dois não se davam muito bem devido ao combate, mas aparentemente ela sequer se importava direito e mostrava o mesmo tipo de reação. Já o caçula Calvenar, ficava muito apreensivo de falar diretamente, considerando a derrota monstruosa que levou. Ainda assim, deu de ombros, continuando:
— É claro que é. Como você não percebeu? Aqueles olhinhos grandes e a estatura dizem isso. Ela não é alta, nem muito forte, até tem cabelo grande… Enfim, eu acho que isso venha de alimentação. Liane não come carne e sempre escolhe pouca comida, por isso é magra.
— Não acho que essa seja a razão.
— Sério? Se for, deve ser uma doença. Poxa, coitada…
Solaris refletiu nos comentários de Imo. Para uma pessoa comum, soava como lógico e extremamente aceitável, mas por algum motivo a jovem não aceitava essa teoria. Existia um traço a mais, um tipo de verdade encoberta pela igreja. Quando ouviu rumores a respeito de Liane, todos comentavam que poderia ser um filho bastardo de algum integrante famoso da Igreja de Lithia, ou quem sabe um órfão resgatado com incrível poder mágico capaz de no futuro ascender a um cargo de maior importância.
Ela respirou fundo, sua mente ainda recusava qualquer teoria.
“O que você está escondendo?”
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