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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    “Um guerreiro só esconde seus segredos porque teme o que os outros farão se descobrirem”, essas foram as últimas palavras de seu pai antes de embarcar na caravana responsável por levá-la a Kirstein. Solaris nunca parou muito para refletir nessas palavras, além do mais, ela nunca possuiu algo que tivesse vergonha de revelar, mas somente agora percebeu que essa mensagem não era voltada para ela, e sim para quem conheceria no futuro próximo.

    Compreender o funcionamento social alienígena das pessoas daquele país era uma tarefa da qual desistiu, pois não sabia as razões pelas quais diplomacia eram tão necessárias em situações simples. Se alguém reclamasse de não ter carne para comer com a academia, por que ele mesmo não ia caçar a criatura que quisesse nas florestas com suas magias ou lanças? Eles eram plenamente capazes, se não fossem, teria pouquíssimo motivo para frequentarem a Academia Aquaria.

    Os pés da garota se mexeram pelo piso de madeira. Seus braços subiam e desciam com suavidade, enquanto um leque na mão direita abanava o vento do quarto. Era uma dança característica de Coraci, feita para espantar os espíritos maléficos e para recompor a energia espiritual dos guerreiros. As mulheres usavam leques, enquanto os homens usavam facas, com uma diferença pequena de movimentos devido ao formato dos objetos.

    Ela nunca deixou as tradições, mas sentia muita falta de sua família na terra natal e também dos súditos que tanto lhe ajudaram quando pequena. A razão para estar ali, representando seu país, era devido a todos eles, e seu agradecimento não poderia ser diferente, porém somente depois de receber um choque de realidade por meio de Liane que entendeu o quão arrogante suas ações haviam sido. Lutar contra os outros, por um mero motivo de se provar superior e de usar sua posição para inferiorizar os demais com o tratamento indiferente era nada além de uma ação covarde.

    “Meu pai sentiria vergonha de mim se me visse…”

    Por isso, agradecia do fundo do coração que aquela… pessoa misteriosa abriu seus olhos. Também houve o caso no salão, que com suas palavras inconsequentes tiveram um efeito completamente negativo na sua imagem. O correto seria se aproximar lentamente dos outros, forjar uma relação de confiança que no futuro traria bons frutos à Coraci.

    Solaris abaixou as mãos, tendo terminado a dança.

    Sua alma acalmou-se dentro de um oceano pacífico, uma sensação comum quando revivia as memórias do deserto. Ela via com clareza as dunas, os oásis na distância e arraias de areia — pássaros de corpo alongado que atravessavam o céu —, imersa na ventania calorosa daquele mundo. Kirstein, comparado àquilo, parecia um outro planeta. A terra inteiramente verde, animais pastando sem medo, pessoas magricelas andando pelas ruas despreocupadas… era como se nenhum conflito tivesse chegado àquele lugar antes.

    Pôs o leque sobre a mesa, trocando o uniforme da academia por um pijama mais agradável. Encarou os lençóis na cama, seu corpo pedia um devido descanso, mas por algum motivo a mente lhe pregava mais peças. Estava tranquila, plena em sossego, só que sem sono.

    Um bater de asas veio aos seus ouvidos. Ao invés da janela, veio das costas. Virou-se naquela direção, a porta do quarto estava destrancada e a fresta aberta. A garota evocou uma pequena chama na ponta do dedo, servindo de vela para o lado de fora. Ninguém lhe esperava do outro lado, escuridão enchia os corredores da direita a esquerda, com uma pequena luz emitindo da vela artificial.

    Solaris estreitou os olhos, encontrando penas flutuando pelo ar no meio dos corredores. Elas formavam uma trilha e giravam sem caírem no chão, demonstrando uma superfície transparente, sendo contornadas por uma cor prata suave. Nenhuma criatura andava pelo local no momento.

    — A ave celestial…?

    Como a herdeira da Faixa Celestial, a única resposta lógica era um sinal divino de Morev’O, a ave celestial. Em sua cultura, ele era o ser supremo, aquele quem fornecia o sol e protegia os fracos da sua chama. Suas penas eram descritas de maneira similar às que via, assim como em registros antigos. Ela engoliu seco, decidida a não temer o sinal de seu deus.

    Seus passos não ecoaram pelo silêncio, muito menos interromperam o sono dos demais alunos. Naquele horário, também sequer um supervisor apareceu, como se as penas a guiassem pelo próprio tecido do espaço. De repente, viu-se parada diante de uma porta de madeira. No topo, havia escrito “depósito”. A fechadura tinha tons pretos por dentro, dando sinais de que alguém derreteu a trava.

    Solaris tomou cuidado para girar a maçaneta e abrir a porta. Seus olhos arregalaram no instante seguinte, ares turvos e de cor roxa rondavam o ambiente, no meio havia uma pessoa de costas com as mãos estendidas para os lados, entoando um cântico baixo. O cabelo preso num rabo de cavalo e também seu tamanho revelaram a identidade do indivíduo: Liane.

    “Um… um ritual? Mas isso…”

    Medo tomou os sentimentos da jovem. Era um ritual maléfico, seu corpo gritava isso, porém não podia dar as costas e fugir. Ela entrou na sala, correndo para impedir aquela loucura de continuar. Uma pena que sua hesitação inicial foi o bastante para os cânticos terminarem.

    O pé de Solaris entrou em contato com a borda do ritual. Sangue demarcava um círculo, que estava também envolvido pelo cheiro de incenso, rodeado por raspas de prata e sal. Naquele instante, tudo ficou mudo, o ambiente ao redor congelou em tons de cinza. Por algum motivo, ela não conseguia mexer seu corpo, travada naquela posição com o braço estendido.

    Então, algo se prendeu ao seu corpo e a puxou. No entanto, a parte física continuou ali, estática, o que se moveu foi o espírito. Ela se viu com dedos fantasmagóricos, flutuando acima de si mesma, sem coração para pulsar e sem garganta para respirar. Do outro lado, o mesmo aconteceu com Liane, no entanto, diferente da garota, sua calmaria chegava a ser assustadora… até que os dois se encontraram com as janelas de suas almas, ou o que parecia serem os olhos.

    — Como você…? Oh, não… Não, não, não! Por que você está aqui?!?


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