Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 205: O Mistério do Caos e da Malícia
Liane estremeceu da cabeça aos pés quando viu aquela figura. Era a figura engcavada na sua cabeça há tanto tempo, uma que parecia Er’Ika, mas que simultaneamente representava algo muito além. Naquele momento, não soube descrever o que sentia direito, um misto entre a saudade e o desejo de fugir. Por que essas coisas conflitantes tinham que aparecer justo agora, quando, depois de muitos anos, finalmente se reencontraram?
O rapaz seguiu à risca as instruções da visão, ele pegou um livro escondido nas prateleiras da biblioteca envolvendo ritos antigos dos povos e tentou diversos deles sem que houvesse efeito.
No final, aquele quem sucedeu, e assim ele se encaminhou para aquelas ruínas para resolver de uma vez o mistério, esperava encontrar Er’Ika ou algo relacionado, mas nessa forma era… diferente.
— Você sabe que eu sei exatamente o que está pensando, certo? — questionou a entidade, avaliando as unhas dos dedos. — Estamos interligados, eu consigo ver em detalhes sua linha de raciocínio desde sempre. Foram ambíguas minhas instruções, claro, mas deram certo no final.
— Então… você sempre viu tudo? Desde que foi selado?
— Hmmm, algo do tipo. Depois que você quase morreu, o selo que nos une se tornou errático. Há diversas rachaduras, o selo que aquela santa fez nada mais é que um remendo sobre tecido rasgado. Você pode dizer que recuperei parte das minhas memórias, por isso deve ter me estranhado quando me comuniquei com você por visões.
Liane emudeceu. Na verdade, não conseguia acreditar que essa mudança inteira veio de uma série de memórias novas libertas após o incidente, parecia uma coisa absurda demais para acreditar. Sua mão instintivamente veio ao pescoço, onde a marca de corte deveria estar.
— Eu estou num estado inativo ainda, no entanto. Mesmo com minhas memórias libertas, não posso interagir com você por meio do mundo exterior, porém meu ser tecnicamente existe nos planos espirituais. Se alguém lhe visse nesse local, veria duas manchas, uma branca, que é a sua alma, e outra negra, que é a minha. Como você realizou aquele ritual de projeção astral, nós em tese ganhamos livre autonomia para se mover dentro desse “limbo”, então decidi explorar um pouco quando seu espírito começou a se separar do corpo, achei aqui o local ideal para um reencontro.
— Ainda assim, é muita coisa para assimilar… O que, o que você lembrou? Você tava comigo esse tempo inteiro? O que, ah, por Lithia, o que diabos significam as visões?
— Kwahahaha, cheio de curiosidades, isso é novo! — A fileira de dentes se alargou, com Er’Ika saltando de cima da placa de pedra. — Eu prefiro mais que você descubra por conta própria o que são as visões. Cedo ou tarde, vão descobrir.
Apontou para os dois. Solaris em especial estava atordoada, quando viu o dedo na sua direção, tremeu. Ela não estava confortável naquele plano de existência, a coisa à sua frente também parecia pouco amigável, sua forma física mudava sem parar e a aura sobrepondo o corpo parecia engolir as sombras.
— Erika, fale sério! — gritou Liane, franzindo as sobrancelhas e dando um passo em frente. — Não é hora para piadas, nós temos tempo, eu tenho certeza! Por que você não revela logo?
— Hah. Que pequenino impaciente… — Revirou os olhos, cheio de desgosto pela pressa. — Porque é da minha natureza, Liane. Eu sou o deus do caos e da malícia, quando mais caótico o resultado for, melhor. Qualquer coisa que eu revele tornará as coisas previsíveis e chatas, coisa que não quero e que não posso desejar. Eu sei muito mais sobre ti do que você mesmo, Liane. Sei desde a hora que nasceu a hora que ganhou ciência do mundo, sei quem é sua mãe, sei quem é sua família, mas se eu contasse, nosso esforço será em vão.
— Você continua sem fazer sentido, só fica enrolando com essas palavras meia-boca achando que tem um grande significado por trás!
— Viu? Não consegue entender. Tenho que tomar cuidado com minhas palavras, garoto, do contrário, você não me libertará.
— Mas isso…
— É uma verdade absoluta. Tenho certeza do que falo.
Er’Ika cruzou os braços e respirou fundo, jogando a cabeça para trás. Penumbras adornavam o pescoço como joias raras, simultaneamente sua fisionomia tremulava. Talvez fosse o sinal de que o feitiço de projeção astral estava perdendo seu efeito. Olhou para as próprias mãos, que lentamente desapareciam no ar.
— Pequenino, eu só quis realmente te ver. Não lhe atormentarei mais com visões, pois você tem total ideia do que é necessário para nos reencontrarmos de verdade. Por ora, estude aquele livro e aguarde o momento perfeito, assim podemos romper esse selo e eu posso sair do seu corpo. Confie em mim, eu nunca lhe trai ou fiz algo que te prejudicasse, não é mesmo?
Essas foram suas últimas palavras antes de terminar de desvanecer. Liane tentou alcançar a poeira cósmica que Er’Ika se tornou, mas em vão.
Nada ficou para trás, o encontro misterioso terminou daquela forma. Tantos anos separados, e quando finalmente tiveram a chance de se ver mais uma vez, a entidade decidiu se envolver em mistérios ao invés de ativamente ajudar ou mostrar algum sinal de compaixão.
O garoto apertou as pálpebras. A raiva de antes desapareceu. Ele estava sendo um grande idiota por seu sentimentalismo excessivo. Er’Ika havia mudado, e como sempre não entendia direito os mecanismos por trás dos sentimentos, usando seu jeito mais lógico possível para trabalhar. Mesmo com essa diferença no jeito, de querer se divertir com algo e esconder-se numa carranca engraçada, ainda era aquela pessoa quem o salvou da morte.
“Sim, continua igual. Não mudou nadinha. Por que eu devia ficar bravo quando com certeza ele se mostraria assim?”
Liane passou os olhos pelo próprio braço. Estava da mesma forma que Er’Ika antes de desaparecer, tremendo e possuindo falhas. Em breve, a conexão espiritual com seu corpo sumiria, eles precisavam voltar. Pegou no “pulso” de Solaris, encarando-a nos olhos antes de seguir andando.
— Esse segredo deve ficar entre nós, e somente entre nós. Ninguém pode descobrir, nem mesmo a santa ou Grey. Eu preciso que jure, jure para mim que jamais falará nada. Eu não sou um cultista demoníaco, Solaris, eu não sou um monstro, eu só estou tentando recuperar o meu amigo… Que é quem você viu. Por favor.
A garota travou no lugar. O tempo inteiro esteve observando a situação, tentando entender qualquer minucioso detalhe. Ela imaginava as relações de Liane com o sobrenatural, só não esperava que fossem demônios ou seres além da compreensão. Engoliu em seco, com dificuldade de manter o olhar erguido.
“Um guerreiro só esconde seus segredos porque teme o que os outros farão se descobrirem”, recitou as palavras mentalmente e então respondeu: — Tudo… bem.
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