Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 207: Dois Problemas a Mais
A história de Liane atingiu Solaris como uma espada pesada contra o pescoço. Demorou cerca de uma hora para tudo terminar, e ele tratou de dar detalhes sobre como conheceu a entidade Er’Ika e qual era sua relação com a igreja. Em resumo, dentro da sua alma habitava um ser desconhecido que foi responsável pela destruição de uma cidade inteira quando foi liberto.
A santa conseguiu selá-la, mas isso não limpou sua consciência de querer entrar em contato com seu melhor amigo, por isso ele procurava um meio de conversar ou pelo menos permitir que a entidade se separasse de seu corpo sem romper por completo o selo. Era algo extremamente perigoso, talvez muito inconsequente de se tentar, no entanto, a confiança na princesa de Coraci vinha do seu comportamento e também da terra de onde veio.
— Se você realmente honra o seu país e seu deus, você não usaria essa informação para me matar e destruir Kirstein, sabendo que Er’Ika poderia ainda chegar em Coraci.
Ela acenou afirmativamente. Podia não ser a melhor em esconder segredos, mas teria certeza de afundar aquele mistério apenas entre os dois. A poeira ainda flutuava no ar quando Solaris sentiu seus ombros relaxarem pela primeira vez. O frio do outro mundo desapareceu, mas o medo ao ter visitado aquele lugar ainda remexia seu estômago.
Ela estava sentada sobre uma caixa velha, braços envoltos nas próprias pernas, observando Liane como se ele fosse uma criatura saída do plano espiritual. O garoto arrumava os objetos no armazém com imensa tranquilidade, para limpar traços de que realizou um ritual proibido há uma hora atrás. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Solaris ouviu o som de passos vindo do corredor — leves, mas ritmados. Seu coração congelou.
Ela fez sinal para Liane, que instantaneamente entendeu e apagou a lanterna com um luminorbe dentro, mergulhando a sala em sombras. Ambos se moveram rapidamente, quase como reflexo, escondendo-se atrás de um conjunto de caixas empilhadas no canto mais escuro do depósito.
A porta se abriu com um ranger prolongado, uma voz carregada de impaciência cortou o silêncio com sua língua ácida:
— Tem certeza de que ele veio para cá?
Era de Seraphina. Solaris apertou os olhos, identificando o rosto fino e branquelo da garota pela fresta do esconderijo. A única razão pela qual lembrava dessa pessoa era devido ao seu mau comportamento e as diversas vezes que a encontrou judiando de outros alunos, e que constantemente era espantada pela presença da princesa de Coraci.
As suas palavras eram sempre como vinagre em ferida aberta.
O motivo dela estar ali não poderia ser outro além da lembrança do aniversário de Erienne — a tentativa de humilhação pública contra Liane, com Celine defendendo o menino e seu guarda-costas quase puxando a espada contra o paladino Grey. Desde então, Seraphina alimentava um ódio irracional, e agora desejava caçá-lo.
— Creio que sim, vi uma luz nos corredores e também daqui de dentro — respondeu outra pessoa, mais grave e serena.
“Delphiane”, pensou Solaris, franzindo a testa.
Não sabia muito sobre ele, mas algo sempre pareceu estranho: ele era reservado demais para alguém tão bonito e bem falado. Seu contato era constante com os demais nobres, em especial Seraphina e uma parte que tinha um ódio profundo por Solaris depois de humilhar tantas pessoas em duelos públicos. A razão pela qual os dois nunca se falaram se devia ao fato dele não contactar ninguém, sempre murmurando consigo mesmo e mantendo-se indiferente às situações ao redor.
— Eu odeio essa sensação de ser deixada de fora — resmungou a jovem nobre, o som de seus saltos batendo no chão ecoava pelo local como pequenas pancadas num tambor. — Ela quer ser o centro das atenções de novo, eu tenho certeza. E com aquele paladino metido a besta por perto, não posso encostar um dedo sem dar a ideia de que estou contra a igreja.
Liane, ao lado de Solaris, permaneceu imóvel como pedra. Suor escorrer de sua têmpora, caindo no pano enrolado na mão manchado de sangue. Delphiane moveu a lanterna para cima, a luz se espalhou pela sala em todas as direções, forçando os dois a se encolherem para não serem pegos.
— É só o depósito velho — O rapaz escaneou o local com seus olhos azuis, mostrando um tom meio decepcionado. — Não tem nada aqui. Vamos sair antes que algum professor apareça.
— Espere — Seraphina ergueu a mão, cheirando o ar —, tem cheiro de vela queimada… o piso também tem marcas.
Ela apontou para pequenos pontinhos vermelhos, farelos da cera junto de uma coloração um pouco diferente da madeira escura convencional. A menina encontrou o círculo ritualístico. Mesmo limpo, havia pequenos vestígios que, para olhos treinados — ou obcecados — podiam revelar mais do que o desejado.
— É isso mesmo que estou pensando? — Ajoelhou-se, seu dedo se arrastou por ali, encontrando minúsculas pedrinhas de sal — Oh, será que é? Será que Liane ficou praticando alguma coisa que não devia aqui?
As sobrancelhas de Delphiane franziram, agora aproximando a lanterna para olhar e reparando nos detalhes escondidos.
— Del, você tá ouvindo o que eu tô dizendo? Isso é magia negra. Alguém tá praticando rituais aqui dentro da escola! Isso daria uma bela prisão! Não, uma pena de morte!
O jovem respirou fundo, como se estivesse ponderando algo sério demais para ser discutido ali. Então falou, com um tom baixo:
— Vamos sair. Agora. Você pode fazer o que quiser com essa informação amanhã. Mas hoje, a gente sai daqui em silêncio.
— Hã? Por que? Seria melhor levarmos essa informação agora para os professores ou para a igreja!
— Porque somos nós quem estamos no meio da noite investigando o depósito. Se você falar isso diretamente ao diretor, ou as autoridades na catedral de Poar, suspeitarão de nós primeiro ao invés de qualquer outra pessoa.
Seraphina parou por um momento para ponderar naquelas palavras. Sim, fazia sentido. Liane aparentava ter sumido, mas os traços de um ritual demoníaco ficariam naquela sala por um tempo. O que precisava era de uma desculpa para entrar, identificar aquelas coisa de novo e alertar alguém que pudesse iniciar uma investigação. Engrenagens giravam na cabeça da D’Munt, aquela pista e a cena de ver sua arqui-inimiga detrás das grades lhe deu água nos lábios.
Finalmente, Seraphina se levantou, exibindo um largo sorriso cheio de malícia.
— Tem razão, vamos indo. Será fácil achar uma desculpa para revisitar esse lugar.
Os passos se afastaram. A porta fechou. O ar no depósito ficou pesado de novo, não pelo ritual, e sim pelas palavras proferidas da nobre. Solaris desabou contra a parede de pedra, respirando aliviada. Só então percebeu que estava segurando a mão de Liane.
— Desculpa — disse, soltando-o rapidamente. — Eu só…
— Tá tudo bem.
O olhar do garoto estava distante, analisando o que havia acabado de acontecer. Ele nem se importava com o toque das mãos. Por um momento, os dois permaneceram em silêncio. O medo de terem sido descobertos vibrava nos ossos, um novo problema apareceu no tabuleiro: Seraphina sabia que algo aconteceu naquela noite dentro do depósito, e Delphiane também.
A mente de Liane acelerou conforme recolhia a bolsa, o nervosismo surgiu por meio da expressão empalidecida. Os olhos avermelhados se tornaram ferozes, ganhando um brilho assustador. Solaris engoliu em seco, aquela pessoa era similar a quem enfrentou na arena do pátio poucos dias atrás, alguém mortífero que não hesitaria de nenhuma forma.
— Eu preciso me livrar deles.
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