Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 210: Relatório de Astaloph
A santa Cristal era uma figura influente, tanto no campo teológico quanto político. Como uma moça jovem, os fieis de Lithia viam nela uma esperança sobrenatural, uma figura capaz de refletir as vontades da deusa e por meio disso conectá-los ao plano superior de existência. A realidade poderia estar um pouco distante dessa imagem exagerada, no entanto, com certeza sua presença na catedral de Poar virou uma notícia cheia de bom agouro para os residentes de Nemetros.
Uma moça cheia de vitalidade, com olhos esverdeados capazes de conversar com o espírito dos que acreditavam na deusa e cuja perspicácia era admirável aos olhos dos integrantes da igreja. Em outras palavras, qualquer pessoa de fora acreditaria que ela fosse alguém perfeita, somente seu irmão e mãe tinham noção da verdadeira realidade escondida por trás dos seus sorrisos charmosos e risadas leves.
Cristal andou ao longo dos corredores sem fim, tendo saído recentemente de uma cúpula entre os espaços da igreja, local este voltado para cuidar das gestantes ou mães e crianças acompanhando, em sua maioria pessoas sem a presença de um pai ou encarecidas de ajuda. Ela sempre prestava visita a elas, e se felicitava com os agradecimentos silenciosos daquelas pessoas quando se encontravam. Não à toa, Cristal gostava muito do que fazia, apaixonada pela religião desde o princípio.
A popularidade de uma mulher escravizada pela religião era popular em países fora de Kirstein, unindo-se a um conjunto de romances retratando as correntes religiosas como um meio de subordinar uma moça jovem aos desejos de outros, porém esse nunca foi seu caso. Ela veio de uma família humilde, cresceu rodeada daqueles que amavam a deusa e por consequência se apaixonou por essa entidade.
No caminho, deparou-se com uma das estátuas de Lithia. Havia uma criança em seus braços, o fino rosto de mármore talhado por um homem que amou cada segundo de seu trabalho refletia dias e horas de esforço para gerar esta imagem agradável. Quando olhava aquela figura envolta de mistérios, inevitavelmente lembrava-se da própria mãe, Dilia Onix.
Cristal ajoelhou-se na frente da estátua e fechou os olhos, rezando em meio ao silêncio da catedral naquela belíssima manhã.
“Sinto saudade de você, mãe. Um dia lhe visitarei novamente.”
Com isso, resolveu seguir caminho rumo aos seus aposentos, onde organizaria uma série de registros da Igreja de Lithia. Devido à sua posição dentro da religião, Cristal acabava pegando alguns serviços a analisar registros históricos, tanto do próprio reino quanto de outros aspectos. Como uma das filosofias principais dentro da religião consistia em “aceitar qualquer um de fora”, eles desenvolveram meios de arquivar a história como um todo.
Países, famílias, culturas, qualquer que fosse o evento, faria parte de uma rica galeria de informações. As que olhava em específico eram um tipo de cultura de um povo originário, um relatório detalhado de um peregrino que explorou as Terras Livres e também os arredores da Floresta da Rosa Negra. De memória, lembrou-se que Liane viveu lá, mas que também esses dois locais eram envoltos em mistérios.
Investigar a Floresta da Rosa Negra era um serviço árduo devido a existência de “monstros” lá. Não eram demônios, nem espíritos em busca de atazanar a vida alheia, mas animais desconhecidos que raramente recebiam atenção devido ao perigo exorbitante de se aventurar por aquele lugar. Ainda assim, havia quem fosse ousado o suficiente para arriscar a vida, o peregrino em questão aparentava ser um desses.
— Astaloph — leu o nome em voz-alta, passando os olhos ao longo do papel. — Onde já vi esse nome antes…?
Buscou na memória qualquer mínima relação com essa pessoa. Demorou alguns segundos, pois parecia estar na ponta da língua, mas por algum motivo não vinha. Tinha um livro com Liane cujo autor era de mesmo nome, o livro em questão se chamava Demonicon e havia sido analisado por Vylon depois que o contato entre eles se tornou mais intenso após o selamento de Er’Ika.
Aquilo continha diversos rituais e informações a respeito de demônios, coisa que interessou bastante Vylon ao ponto de criar outras cópias e entregar a contatos seus para estudarem. Era um material interessantíssimo, no entanto, jamais encontraram qualquer informação além disso a respeito do autor… até agora.
Os olhos de Cristal se arregalaram, sua atenção se redobrou para o relatório, que dizia:
Ruínas foram encontradas numa caverna detrás de um ninho de aranhas gigantes. Nenhum seguidor morreu no trajeto, nem tivemos empecilhos quanto a comida a água, no entanto, dois sumiram durante as investigações que fizemos. As ruínas possuíam vários símbolos de olhos, similares as de Orthon.
Encontramos também paredes cheias de símbolos dos quais não sabemos ler. Não tinhamos nenhum especialista em línguas antigas, então resolvemos procurar por mais coisas pelo local. A entrada desceu por uma escadaria espiral rumo ao subsolo, enquanto a entrada era separada por uma parede de ferro enferrujada. Não descobrimos ao certo como as antigas pessoas desse local faziam para abrí-la, pois tivemos dificuldade em identificar exatamente o mecanismo detrás da porta.
Depois da escadaria, havia uma cripta. Um dos exploradores acreditou ser um tipo de cemitério ou local para proteger os mortos, considerando que até então aparentava estar lacrado. Encontramos nenhum defunto, na verdade, os espaços em que supostamente eles deviam estar continha poeira e trapos.
O relato seguia falando a respeito das ruínas. Sem sinais de armadilhas, muito menos qualquer vida antepassada além das inscrições e símbolos estranhos. Cristal se sentiu muito curiosa a respeito, porque Astaloph era uma figura misteriosa conhecedora de demônios e porque isso parecia estranho demais. Haviam outras localidades com traços similares aos descritos no relatório, Orthon era uma dessas, no entanto, nunca encontraram algum tipo de linguagem feita pelo povo quem construiu essas estruturas.
A respiração da santa se tornou errática. Ela levantou da cadeira, indo rumo a janela e vendo o sol do lado de fora. Estava tudo tão claro, um mundo inteiro feliz, mas por algum motivo seu coração não parava de pulsar. A ponta dos dedos tremeram, e seus dedos foram atrás de uma pena para escrever uma carta. Era destinada a Vylon, para arquitetarem uma excursão temporária.
A mulher desejava fazer parte, no entanto, jamais perderia de vista Liane. Os três iriam de um jeito ou de outro.
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