Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 212: Sinal Perigoso
A extensão dos ensinamentos de Lithia tangiam diversas áreas da ética e moral. Para muitos, rezar para a deusa lhe trouxe a esperança necessária para sobreviver no mundo, enquanto para outros foi como uma razão para continuarem existindo. Nobres, plebeus, criminosos, inocentes, seja de Kirstein ou Coraci, seja homem ou mulher, todos se rendiam a Mãe Suprema. A submissão e indiferença aos outros era necessária para amá-la e receber seu amor, então recusar o outro por um motivo trivial causaria a fúria da divindade.
Er’Ika era diferente de tudo isso. Ele tinha desejos sádicos, exigia questões específicas demais, analisava outros como peças funcionando numa grande máquina — em outras palavras, um tipo de ser inumano que procurava a eficiência acima de conceitos como bondade e maldade. Desde que seus objetivos fossem cumpridos, as consequências por trás do meio eram irrelevantes. Assim virou a imagem retratada no imaginário de Vylon, Cristal e por fim Grey, que encontrava constantemente o dilema moral por trás da presença daquela entidade.
Pela mesma razão, ele desgostava de espíritos e criaturas sobrenaturais fora do que se entendia como sinal ou relacionado a Lithia. Não os odiava, apenas não conseguia se relacionar com estes e às vezes preferia recusar pedidos ou dúvidas envolvendo-os, logo, um complexo foi construído devida a natureza de Er’Ika. O paladino entendia bem como fazia falta um amigo próximo, tal como a fada se mostrou para Liane, mas ainda assim queria evitar vê-lo novamente.
Grey cruzou os braços e se recostou na parede atrás de si. No momento, estava acompanhando Liane para uma de suas diversas aulas ao longo da grade curricular da Academia, e por ser seu guarda-costas, precisava a todo momento ficar à postos caso um ataque viesse rumo ao protegido. Estranhamente, em mais de meia década, nunca mais houve sinais intensos de cultistas demoníacos, nem sequer um único ataque.
Haviam casos isolados ao longo de Kirstein, que eram enfrentados por meio da Ordem de Paladinos e seus diversos colaboradores dentro dos feudos, mas desde o episódio em Verdam, essas ocorrências diminuíram e o desaparecido cultista demoníaco entitulado como líder do movimento naquela cidade não retornou para uma vingança. Era muito estranho, considerando que Er’Ika apareceu em uma forma horripilante e tinha o potencial de destruir muito da nação.
Um pequeno tremor tomou a pele de Grey. A memória vívida do monstro feito de piche rastejando sobre o céu e invertendo os conceitos da lógica com tanta facilidade lhe assustava. Era outro motivo pelo qual nunca mais desejava se reencontrar com Er’Ika, gostando muito mais do estado selado atual.
— Usando uma composição de palavras, podemos guiar a mana para criar um efeito sobrenatural… — explicou a professora em sala, escrevendo com giz num quadro negro.
Para muitos, era uma oportunidade de ouro estar ali, mas para Grey não passava de bulhufas sem sentido. Nos tempos de aventureiro, quando fez um voto na Ordem dos Paladinos para espalhar bondade pelo reino e servir como uma ferramenta para repelir o mal, ele inevitavelmente acabou se deparando com Ludio e sua matraca a respeito de magia. Ele nunca entendeu nenhuma daqueles termos complicados e o que exatamente mana significava, porque tanto não se interessava a respeito quanto preferia muito mais os ensinamentos a respeito do uso de poder divino.
Já Liane, parecia o complexo oposto. O garoto vivia ouvindo com atenção a tudo que o velho mago falava, e como resultado, isso fez com que Ludio ficasse careca e ganhasse mais barba — parecia até uma consequência natural de tanto estudar. Pelo menos, isso divergiu a atenção de Liane para algo além do poder demoníaco, sem sombra de dúvida preferia que ele fosse um mago do que um cultista.
Como o garoto não demonstrava nenhuma habilidade para poderes divinos, também seria uma escolha melhor para carreira no futuro, mesmo que inevitavelmente ele acabasse caindo nas graças da igreja devido a presença de Er’Ika no selo.
“Não há muito o que possa ser feito, terá que ficar conectado a nós de um jeito ou de outro. O bispo Vylon, a irmã e o papa nunca deixariam uma ameaça em potencial sair a solta.”
Pensar em Liane como ameaça era bastante errado, porém exisiam poucas formas de descrever de outra maneira. Um leve suspiro saiu de seu pulmão, vendo o trio apelidado de LIS — Liane, Imo e Solaris. — se reunirem um ao lado do outro para conversarem baixinho a respeito. Liane estava mais atento à aula, ignorando um pouco da falação de ambos os ouvidos por conta dos amigos.
— Certo, eu preciso agora de um voluntário… — falou a professora, batendo o giz no quadro. — Senhor Grey, se importaria em vir aqui?
De repente, os olhos do paladino arregalaram. Ele sendo chamado no meio de uma aula, quando era melhor apenas ser mantido quieto no lugar? Os pensamentos aceleraram na sua cabeça, procurando uma saída.
— Para que precisa de mim?
— Quero um exemplo prático sobre diferentes manifestações de mana. Se não lhe incomodar, por favor, venha.
A professora em questão tinha cabelo castanho cacheado e usava óculos. Era bastante jovem, sua eloquência e jeito nas palavras a tornou a musa da parte masculina da sala, ao ponto de ser comida com os olhos toda vez que devia dar aula. Já para Grey, ela aparentava ser alguém normal, talvez escondendo algum segredo vergonhoso por trás do semblante amigável.
Não faria mal ter uma pequena apresentação, mas também era necessária alguma cautela.
— Posso fazer isso desde que Liane também faça alguma demonstração.
— Claro, isso não será um problema.
Com isso decidido, Grey desceu a escadaria acompanhado do protegido e se colocaram perto do quadro junto da sala. Como aquilo exigia uma demonstração de “mana” e ele não tinha habilidade alguma com magia, provavelmente era algo como manifestar o poder divino. Não havia especificamente um ensinamento contra demonstrações, além do mais, elas eram essenciais para que novos paladinos, freiras e monges aprendessem a usar milagres.
Ele puxou a espada da bainha e a lâmina se incendiou com fogo dourado. A brasa dançou da direita para a esquerda, mantendo-se constante igual chamas consumindo lenha.
A professora lançou um pequeno sorriso.
— Muito obrigada. Agora, turma prestem atenção.
Ela pegou o pulso de Grey e levantou seu braço para o alto, de forma que todos vissem o fenomeno. No entanto, o paladino não permitiu que seu corpo mexesse. Aquele mísero toque, ocorrendo apenas por uma fração de minuto, foi o suficiente para relevar algo macabro.
Os sentidos daqueles que se investem nas conceituações da deusa são apurados para detectar oscilações com diferentes formas de energia. A mana comum costuma aparecer como uma sensação amena, a energia divina como algo aconchegante… e a demoníaca se mostra como digna de nojo e repulsa. O que Grey mais sentiu nesse momento foi uma grande repulsa, seguido de uma enorme raiva.
Aquela mulher, seja lá quem fosse, era alguém marcada por demônios.
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