Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 214: Beijo
Solaris, como uma Coraciana e parte da família real, tinha uma certa falta de senso para questões políticas e sociais. Isso se dava a criação isolada, desde que a revelação sobre seu destino como herdeira da Faixa Estelar e futura oráculo para o deus Morev’O. Similar a posição de Cristal como santa dentro da religião de Lithia, a princesa de Coraci passou por um tratamento similar, rodeada por textos sagrados e imersa na pureza demonstrada pelos anciões e sacerdotisas.
Mesmo assim, ela manteve certo contato com sua família, pois querendo ou não ainda era uma princesa e necessitava de uma devida conexão com eles, especialmente por uma questão relacional e de proteção. Dentro da cultura do deserto, a independência e a força própria eram valorizadas entre guerreiros, então Solaris também foi treinada na arte da guerra e desenvolveu seus meios para se proteger e destruir os inimigos.
Isso ocasionou num tipo de sexto sentido, que ao certo não sabia dizer se era similar aos que os paladinos de Lithia possuíam. Era um clique mental, uma intuição forte de perigo ou de perceber coisas fora de lugar — não à toa essa coisa sobrenatural salvou sua pele inúmeras vezes, assim como falhou inúmeras tentativas de assassinato. Aquilo chegou tão longe que ela poderia perceber uma tentativa antes mesmo de ser idealizada, algo comentado pelo ancião que a treinou no templo na sua terra natal.
Ver Liane virou uma surpresa esquisita. Desde o princípio, algo gritava no interior da sua alma para tomar cuidado com aquela figura, mas simultaneamente pedia para se aproximar, por essa razão as ofensas no salão aconteceram e o duelo inevitável deles também. Ainda assim, esse instinto se provou uma benção, e continuava falando na sua orelha para chegar mais perto.
Como consequência, ela descobriu o fatídico destino de Liane e sua relação com um ser estranho, o que gerou mais pena do que qualquer outra coisa, mas simultaneamente criou o temor dele se relacionar com poderes demoníacos. Sua cabeça girava com a ideia de enfrentar demônios, esses seres eram falados em lendas e nas histórias de seu povo há séculos, logo, temia estes seres com o coração.
No entanto, aquele sorriso oculto de Liane foi o que gerou uma faísca na mente. O sexto sentido imediatamente apontou para uma trama escondida, para algum tipo de artifício estranho acontecendo por trás das cortinas. No entanto, ainda estranhava como ele saia de seu quarto sem alertar o paladino, ou como andava pelos corredores sem ninguém percebê-lo.
A cabeça de Solaris não conseguia deitar no travesseiro. Sua mente parecia desesperada, uma corrente de adrenalina corria pelo cérebro e a deixava acordada, longe de qualquer sinal de sono. Mesmo dançar no meio do quarto não espantou seus pensamentos, seus braços se mexeram com violência conforme replicava os movimentos com o leque, enquanto os pés causavam um chiado desagradável pelo piso.
“O que eu faço? O que eu faço?”
Ela não via outra escolha além de procurá-lo. Algo lhe dizia que Liane estaria lá fora, talvez em um ponto diferente realizando um ritual devido a Seraphina e Delphiane terem descoberto a cena no depósito. A ansiedade fez seu coração bater mais rápido, e como era impossível pensar em outra coisa, decidiu sair do quarto.
Andou rumo ao pátio, aproveitando seu físico e intuição para desviar de qualquer monitor fazendo ronda pelos corredores. Uma lua cheia adornava o céu, mas ela parecia enorme, muito mais do que os dias anteriores. Os pés de Solaris tocaram a grama do pátio, enquanto os olhos averiguavam o ambiente em busca de algum sinal de luz. Ela estava sentindo que Liane estaria fazendo outro ritual, mas não tinha coragem o bastante para confessar para os outros.
O que ele mais queria era se reencontrar com seu melhor amigo, mesmo que por meios duvidosos, e isto fazia sua mente trabalhar num dilema difícil. Por um lado, havia pena, no outro, culpa por continuar em silêncio.
De repente, um cheiro chegou às narinas. Era de incenso, de uma erva da qual desconhecia e vinha de cima. Ergueu a cabeça, uma finíssima cortina de fumaça circulava pelo ar, tão imperceptível que só alguém com sentidos extremamente afiados notaria. Vinha de um dos andares superiores, mas que dava vista para o pátio. De primeira, pensou em saltar usando o reforço muscular que Liane lhe ensinou, mas imediatamente recusou a ideia temendo que tanto o assustaria ou pareceria uma louca — coisa também ensinada por Liane.
Ao invés disso, tomou um caminho por dentro da Academia. As escadas espirais sussurravam palavras estranhas, junto de um ar decrépito e temeroso. No final, o que se deparou foi algo que temia, um tipo de rito esquisito por parte de Liane. As mãos unidas se separavam, uma subia pelo antebraço e a outra girava os pulsos, a sutileza em cada movimento chegava a dar medo.
Porém, aquela coisa, seja lá o que fosse, não era nada similar ao ritual de projeção astral. O cheiro de incenso também era agradável, e nem sangue ou velas eram usadas naquilo. Aparentava ser amigável, mas a descrença de Solaris no final a forçou a apenas observar, temendo qualquer resultado naquilo.
Liane estalou os dedos, a princesa deu um pequeno saltinho de susto. O cheiro de incenso desapareceu do ambiente, um suspiro saiu do garoto, que finalmente se virou para deparar-se com Solaris o encarando cheia de medo. Seus passos ecoaram pela escuridão, acompanhados daquela aura misteriosa que sempre mostrava quando a noite o envolvia.
— Me desculpe por isso.
O coração da princesa parou. Aquela era sua sentença de morte? Talvez um ser demoníaco se apossou dele e o contrato exigia sua vida? Então, por que não conseguia se mexer? Era o medo por saber que não conseguia vencer aquela luta, independente do quanto tentasse, ou a curiosidade louca de saber o que aconteceria? As mãos de Liane tocaram suas bochechas, e ali ela viu como a qualquer momento seus ossos se quebrariam e a pele derreteria no menor sinal de força.
Solaris aguardou o fim, seus olhos arregalados não conseguiam desviar da iris avermelhada do rapaz à sua frente, simultaneamente imersa na combinação de cores carmesim. O fim nunca veio, ao invés disso, algo muito mais sinistro e dos sonhos mais loucos de um poeta: um beijo. Os lábios se encostaram, trazendo o sabor doce de mel, e de repente, a princesa de Coraci sentiu as forças sumirem do corpo.
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