Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 220: Frade Astaloph e Monge Silon
A Floresta da Rosa Negra era uma das razões pela qual a região onde Liane teve sua infância foi denominada como “Terra Livre”, e também deu muitas razões para os líderes da casa Tanite e os da casa Minus nunca quererem gerir aquele território. Primeiro, a Floresta era problemática de se navegar sem um guia, as árvores altas tapavam o céu com as copas, ao ponto de nem mesmo a luz do sol entrar direito, dando uma escuridão macabra por todo lugar.
Além disso, muitas criaturas desconhecidas e fenômenos bizarros aconteciam naquela floresta. Os animais se assemelhavam a mutações de outros já existentes, como ursos com o dobro de tamanho e pássaros raríssimos que acreditavam terem sido extintos. Alguns dos acontecimentos, mesmo que aparentemente feitos por mãos humanas — como o caso de Jessia pendurar os corpos de soldados em árvores — serviam para reforçar o misticismo, para criar a imagem de um local amaldiçoado pelos espíritos.
Liane nunca teve muita coragem de explorar demais aquele lugar, mas adquiriu uma quantidade saudável de conhecimento por, na época que conheceu Er’Ika, absorver memórias de muitos pássaros e roedores, criando um mapa improvisado na sua mente. Certos espaços permaneciam escuros, seja porque sua memória não lembrava por completo dos dados que a entidade colheu ou porque nunca viu determinadas partes da floresta.
De qualquer modo, ele não precisou se preocupar em ajudar os outros a não se perderem em meio aos troncos, pois outra pessoa tomou essa função. Próxima à Floresta da Rosa Negra, havia a Vila do Dente, agora renomeada para “Vila da Redenção” após os eventos com cultistas demoníacos. Muita da infraestrutura foi substituída, obtendo um enorme reforço na parte religiosa com a construção de templos, enquanto a antiga prisão onde Jessia foi presa se transformou numa instituição para treinar espadachins, funcionando de forma similar às Escolas de Esgrima.
Liane achou muito interessante todos os jovens se reunindo sobre a tutela de um espadachim mais velho, este cujo nome nem se lembrava, mas tinha certeza de tê-lo visto como um antigo guarda da prisão. Era uma evolução extremamente interessante, mas da qual preferia evitar se recordar demais.
— Isso me dá uma nostalgia…
Liane virou a cabeça para frente quando ouviu a voz. Vinha de Grey, com as mãos na cintura e olhando para a placa pendurada de uma taverna de nome não muito revelante. Este lugar foi o mesmo que eles se conheceram, assim como o palco principal para uma série de catástrofes na época. Novamente, o estabelecimento seria um ponto de encontro importante para os próximos passos.
— Já esteve aqui antes? — indagou Solaris, dessa vez curiosa pelas palavras do homem.
— Claro, eu parei aqui nos meus tempos de aventureiro. Também conheci Liane e a avó dele.
— Você tem uma avó? — A garota se virou na direção do rapaz, que deu de ombros em resposta.
— Não. É só uma forma de falar.
Sem esperar pelos outros, Liane empurrou a porta e se deparou com um jovem do outro lado do balcão. Infelizmente, não era o mesmo homem de bigode bem feito de antes, talvez fosse seu filho a julgar pela semelhança em aparência e também porque ele tinha um bigode no mesmo estilo. Ainda assim, eles não estavam aqui para comer ou perder tempo pedindo ajuda para um dos mercenários lá dentro.
A natureza felizarda da primeira vez que colocou os pés na taverna virou do avesso, aquelas pessoas pareciam angustiadas e saídas direto de um funeral. O jeito com que balançavam os canecos cheios de hidromel indicava isso mais do que qualquer outra coisa, e a falta de vontade para qualquer minúsculo movimento soava como um lamurio cheio de arrependimento.
O mesmo valia para o indivíduo que procuravam, vulgo Astaloph. Era um homem magro, de cabelo grisalho e cheio de rugas no rosto, olheiras tomavam a face ao ponto de quase fazer com que seus olhos caíssem da cabeça. Ele usava um manto preto pesado, e qualquer um que o encarasse daria um de dois vereditos: mendigo ou cultista demoníaco. Ainda bem que foram informados previamente sobre como aquele homem se parecia, assim tirava qualquer pingo de dúvida, pois ele era o único se encaixando nessa descrição especificamente.
Vylon tomou à frente e liderou os demais até a mesa, ocupada por Astaloph e um monge de Lithia, cuja expressão o mostrava inerte dentro de uma meditação. No entanto, quando os visitantes se aproximaram, ele imediatamente abriu os olhos e encarou o bispo. Uma espécie de conexão mental se estabeleceu entre os dois, como se um entendimento mútuo surgisse e as informações tivessem sido trocadas num estalo de dedos.
O grupo se sentou ao redor da mesa, a única fora do assunto era obviamente Solaris, mas eles não se importaram tanto.
— Creio que sejam frade Astaloph e monge Silon. Viemos conferir as ruínas relatadas pelo frade.
— Obrigado por virem… — disse o monge, acenando a cabeça levemente. — Infelizmente, Astaloph tem algumas dificuldades em falar, então tratarei da parte oral.
— Por que o frade tem problemas em falar? — questionou Cristal, notando o homem abaixar os olhos.
— Astaloph desenvolveu uma fraqueza na voz após muitas experiências no seu passado. Sua fala é muito baixa por causa disso, creio ser ideal que eu tome à frente nesse assunto.
Silon prosseguiu com as explicações, detalhando as condições das ruínas, sua localização na floresta da Rosa Negra e os riscos associados a atividades demoníacas ou entidades espirituais presos nos antigos santuários. A cada palavra, Cristal mostrava mais interesse por uma variedade de reações, enquanto Vylon apenas confirmava com a cabeça. Liane, porém, teve dificuldade de manter o foco — não por desinteresse, mas porque algo ao seu lado estava prestes a explodir.
Solaris, inquieta, batucava os dedos sobre a madeira da mesa com crescente impaciência. Seu olhar vasculhava o ambiente com desprezo aberto, claramente incomodada com o cheiro, o barulho e, especialmente, com o estado deplorável das pessoas ao redor. Não era um ambiente que condizia nem com sua posição social e muito menos com a cultura da qual foi ensinada por anos.
— Vocês chamam isso de estabelecimento? — murmurou, alto o bastante para os mais próximos ouvirem. — Estou prestes a vomitar se tiver que ouvir mais um arroto vindo daquela mesa.
Liane gelou. Ele tentou ignorar, mas Solaris não parou por aí. Quando um dos clientes embriagados se levantou cambaleante e quase caiu em cima dela, Solaris reagiu por instinto. Levantou-se com agressividade, colocando o braço diante do homem e, reforçando seus músculos com mana, realizou um empurrão que mais se assimilava a chifrada de um touro. O infeliz caiu rolando pelo chão, derrubando uma caneca que estourou em farpas de madeira e hidromel.
Um silêncio tenso tomou o salão por alguns segundos.
— Solaris… — sussurrou Liane, erguendo-se com pressa. Ele fez um sinal rápido para Grey e depois virou-se para os demais. — Me deem licença um instante, por favor. Acho melhor resolver isso antes que alguém resolva chamar as autrodaides.
Antes que a princesa pudesse responder com alguma fala idiota, ele já a segurava gentilmente pelo braço, conduzindo-a para fora da taverna. Solaris não ofereceu resistência, embora bufasse de desgosto. Já na porta, ela lançou um último olhar de nojo para o interior do lugar e murmurou:
— Nem mesmo um cão deveria entrar num lugar desses.
Assim que saíram, Liane soltou um suspiro contido, quase ofegante. Precisavam mesmo ter trazido Solaris? Esse arrependimento permeou seu coração por tempo demais, se pudesse mandá-la de volta agora, assim faria. O estresse era tamanho que ele sequer percebeu como Astaloph, o homem que queria reencontrar por conta do seu conhecimento no Demonicon, encarava-o fixamente, com as sobrancelhas arqueadas de forma a imitar um rosto triste.
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