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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Dilia segurava Cristal nos braços igual a pedra preciosa frágil. Ela não esperava que isso fosse o último presente do marido, na verdade, considerava uma grande covardia deixá-la para cuidar sozinha, mas ainda era a melhor coisa que podia desejar. A bebê tinha os olhos do pai, as íris esverdeadas e claras eram duas esmeraldas encrustadas, uma encontrada nas profundezas de uma caverna e retiradas para presentear uma deusa. 

    No dia do parto, a mãe agradeceu a deusa Lithia por recebê-la, um sorriso fraco habitava a face sempre que ouvia os gemidos da pequenina. Poderia ser fome, poderia ser apenas um desejo por atenção, não importava, ela gostava de mimar o quanto precisasse a bebê. 

    No entanto, por causa disso, um novo dilema entrou em sua mente: seria mesmo correto continuar naquele vilarejo com duas crianças para cuidar? Topax era um ótimo homem, ele se esforçava diariamente para trazer o sustento para aquela família numa forma de pagar a dívida com Greyson, sem demonstrar a mínima importância para também ter uma esposa, filhos ou um novo sucesso na carreira. Ele estava preso por correntes invisíveis e achava justo fazer tal coisa.

    O peito de Dilia era lentamente cortado pelo sentimento de impotência diante disso, por isso pretendia ir embora. Uma carta foi escrita para o Mosteiro Vylon, onde uma amiga sua, Peny, morava e praticava os serviços de freira. O conteúdo dentro do envelope foi:

    “Querida Peny, 

    espero que esteja vivendo bem. A última vez que lhe vi foi após o nascimento do meu filho, Greyson, e lembro-me de como veio ao meu encontro para abençoá-lo. Ele tem crescido com muita saúde e força, creio que seja por causa das palavras gentis que me deu e sua alegria em vê-lo. Também creio que esteja ciente das notícias recentes, do que aconteceu com meu marido e do meu desaparecimento, talvez esteja até surpresa pelo tanto que me mantive calada. Eu estou um pouco longe, ainda no condado de Minus, num vilarejo remoto, olhando o pasto da janela e vendo a grama crescer. Onix tem sido muito carinhoso, ele tem dado a mão para não passarmos fome, e devo muito a este bom homem, mas confesso sentir um remorso toda vez que nos vemos no corredor. 

    O motivo de ter lhe enviado esta carta é que eu peço por ajuda, minha querida, pois não posso mais ficar aqui. Minha filha nasceu há pouco tempo e estou muito fraca, tenho dificuldade até mesmo de escrever essas palavras, e meu filho, por ser muito pequeno, não é capaz de tanta coisa. Eu queria lhe pedir abrigo, ou, se meu coração desejar, me converter a Lithia e virar freira. Não há como eu amar mais ninguém tanto quanto amei Greyson, muito menos desejo meus filhos e amigos do meu marido sofrerem por causa de mim, então eu estou pedindo por ajuda. Farei qualquer coisa, e espero que essa mensagem chegue em segurança até você.

    Com carinho, sua melhor amiga e querida professora, Dilia.”

    O envelope foi lacrado e entregue a uma pomba na cidade mais próxima. Ela precisava aguardar, somente isso. Cantarolando e com Cristal nos braços, Dilia ainda observava o cenário do interior. Estava ficando mais quente, sinal do fim da primavera se aproximando. Faziam dois meses desde que chegaram lá, o tempo voou rápido demais para se perceber, mas justamente essa velocidade absurda que perturbou a mulher.

    Ela tinha medo de um dia acordar e abrirem a porta procurando-a, para punir dos falsos crimes do marido. Engoliu seco, suor desceu pela nuca quando escutou o ranger da madeira, apanhando um pequeno garfo que estava na mesa. Um golpe na garganta, isso mataria imediatamente. Quando o ranger aumentou, ela girou e levou a ponta do garfo na direção do pescoço de quem quer que estivesse atrás de si.

    Seus olhos se encontraram com o de Onix, que deu um passo para trás a tempo de esquivar das pontas de metal. Dilia arregalou os olhos, seus dedos tremeram enquanto olhava a palma vermelha de tanta força que punha naquilo. O talher escorregou pelos dedos, caindo no chão e seu baque encheu os olhos dela de lágrimas. 

    — Me-Me desculpa, me desculpa… — Agora as pernas estavam com dificuldade de mantê-la de pé. — Eu… eu…!

    — Está tudo bem, madame — respondeu Onix, apanhando o garfo do piso e pondo em cima da mesa. — Já vi pessoas ficarem ainda piores depois de viverem com medo por anos. Eu não me machuquei, então está tudo nos conformes…

    Aquilo era uma mentira. Um pequeno risco vermelho foi desenhado na bochecha, mas era pequeno demais para considerar um incômodo. Dilia viu aquilo e tirou um lenço para limpar a marca, continuando a chorar e sentindo o mundo desabar dentro de si. Onix tinha uma expressão complicada — sua mente entendia a dor de perder um marido e ainda por cima fugir às pressas, imaginando as consequências de desaparecer de repente e com receio de por os pés para fora de casa.

    Ela ficava muito tempo dentro da casa, hesitava em interagir com os moradores e preferia sentar próximo à uma janela para analisar os outros. Esse tipo de atitude se repetia todo dia, e mesmo quando Onix ou o pai de Relena tentavam ajudá-la a ter interação com os outros, havia uma enorme resistência. A essa altura, desistiu de insistir, optando por entregar o mínimo de estresse possível.

    — Madame, tenha paciência, eu sei que ainda não encontramos o cadáver do senhor Greyson para dá-lo um funerl digno, mas em breve acharemos.

    — E do que adiantará dar um funeral? Ele continua morto, Topax, morto! 

    — Minha senhora, ele pode estar morto, mas os pedidos dele ainda existem. — O homem se ajoelhou e abaixou a cabeça, mostrando parte dos fios grisalhos no cabelo. — Mesmo que ele não esteja aqui, mesmo que nós soframos, isso não me impedirá de realizar o favor que ele me exigiu.

    As palavras fugiram de Dilia, impedida por aquela honra inabalável e tamanha coragem. Para qualquer um comum, Onix seria visto como um capacho e alguém muito idiota de nutrir sua vida para o bem do outro, mas, naquele exato momento, ela entendeu o porquê tamanha lealdade existia.

    “Há todo tipo de pessoa no mundo, e por isso eu devo respeitá-las, independente de como forem. Se você as respeitar e estender a mão para elas, cedo ou tarde o mesmo ocorrerá de volta.”

    Essas eram as palavras que Greyson sempre repetiu, e que, pela primeira vez, Dilia presenciou em carne viva.

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